quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Enfim, sós!

Quero dançar comigo mesma,
Quero me abraçar tanto até me sufocar de paixão,
Vou encher-me de beijos molhados, dos pés até a cabeça.
Já não preciso de tempo para me conhecer, percebi que quero a mim mesma com um amor tão imenso que seria capaz de embebedar toda a humanidade.

Há tempos que me buscava,
Havia percorrido tantas estradas,
Vagado perdida por tantos corpos estranhos...
E hoje percebo com uma clarividência absurda como estes corpos que tanto me fizeram perder o controle são diferentes de mim. Estranhos a mim...

Eu estava obnubilada,
A verdade é que sempre estive tão perto,
Do lado, ali! Sempre me observando, esperando um aceno que fosse,
E eu cega!
A cegueira não está nos olhos e sim na alma...

Mas agora que me encontrei...
Vou me amar muito,
Passear nas tardes amarelas,
Colher conchinhas no mar,
Fazer amor debaixo dágua,
E engravidar-me de mim mesma...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A menina e o gato


Eu tenho um gato, o nome dele eu não quero revelar, começa com a letra L, tem quatro letras, e é o nome de um outro bicho.
Eu tinha abandonado o meu gato na rua, não costumo fazer isso, mas L. era muito fujão. Só parava em casa quando tinha vontade. Ás vezes porque estava cansado e aí vinha todo cheio de dengo para repousar na nossa cama. Noutros momentos L. parecia que sofria de carência crônica e aí não desgrudava de mim, roçava seu pêlo no meu, me acariciava, banhava-me toda com sua língua, rosnava e dizia que me amava uma, duas, três, quatro... e prometia não mais fugir de casa. Só que bastavam os dias correrem, os amigos aparecerem, as outras gatas... e lá se ia L. novamente para suas aventuras intermináveis...

Eu adotei o meu gato L. numa noite de natal, tava tão bonito, limpinho e abandonado. Tive dó do bichinho e a partir desse dia resolvi que cuidaria dele...

Mas, não consegui cumprir meu intento, numa noite de revolta depois de uma das suas escapadelas pela vizinhança eu não o recebi mais de volta e o larguei de uma vez na rua...

Eu não sei o que fazer com meu gato, quando ele começa a miar desesperado, com sede de leite e fome, não sei bem o que acontece mais meu coração se derrete e lá vou eu novamente dar de comer e beber ao bichano.

Sei que o correto mesmo era que eu não o recebesse mais e o enxotasse de minha porta, mas já saquei que ele de um jeito ou de outro descobriu o meu ponto fraco e sempre consegue tudo o que quer de mim.

Dizem que isso pode ser amor, acho que sim, acho! Meu gato L. não me cobra nada, eu também já não o espero mais e assim seguimos vivendo, sem posse, se amarras, sem gritos e revoltas... Somente gemidos e lambidas de amor.

Ah, meu gato L. Por que as pessoas não nos entendem? Por quê?

Fotografia: A menina e o gato de Manuel de Oliveira. 1941

domingo, 7 de dezembro de 2008

É só uma questão de jeito

Escrevo porque sempre tenho necessidade de ver as coisas de um jeito diferente do que são: as coisas...
Quando era pequena eu tinha muitos amigos que só apareciam para mim. Um deles era um menino lourinho que lembrava muito o Pequeno de Saint-Exupéry. Tinha uma senhora de cabelos brancos, um saci pererê, um príncipe encantado, uma cadela com pelos negros, um papagaio que falava todas as línguas, um pé de vento que sempre rodopiava e me contava estórias das suas andanças, um homem com voz doce que parecia o papai noel...

Certa vez andando pelas matos do interior do meu avó, eu presenciei o casamento mais lindo que alguém podia sonhar: era de uma sabiá e um joão-de-barro. Foi uma beleza de festança, todos as familiares presentes, os amigos, coisa mais linda a cantoria deles... eles dançavam e cantavam tremulando as assas... toda a mata ficou com lágrimas nos olhos de tanta felicidade. Quando fomos visitar a casinha deles era uma belezura só, dava pra perceber que eles ficariam juntos a vida toda e que seriam muito felizes dentro daquela casinha tão repleta de cuidado e amor.

Teve um dia que eu estava muito muxoxa, parecia que a vida não tinha mais sentido para mim, acho que eu tava com doença da alma. Acho! Aí eu sentei numa pedra e fiquei derramando gotas de orvalho dos meus olhos e pensando que seria melhor que eu partisse de uma vez pra outro mundo e abandonasse tudo: o sol, as flores, a florzinha, os amigos... de repente, surgiu uma borboleta amarela grandona, mas muito grandona mesmo. Ela danou-se a conversar comigo e disse que ia me emprestar um par de assas que ela tinha de reserva só para eu conhecer o mundo lá de cima do céu e puder ver como viver era belo. Voamos muito tempo para o alto, acima das nuvens e bem perto das estrelas. Lá de cima eu conheci outras borboletas que também me esperavam no céu, ficamos sem dizer uma palavra durante muito tempo, eu olhava aquele mundo tão grandão lá de cima e pensava: como a gente podia viver num mundo tão imenso sendo tão pequeninho? Eu fiquei mais alegre de estar viva, me achei privilegiada e quis voltar pra terra e continuar minha caminhada por esse planeta de gente miúda. A borboleta, minha amiga, seguiu seu caminho, disse que um dia nos encontraríamos novamente para visitarmos outros lugares ainda mais distantes. Eu espero sempre por ela.

Tem um mês que eu vi cair uma chuva de sorvete, caiu como se fosse chuva, tinha de todas as cores, tudo quanto era sabor... hum, uma delícia!

Quando eu durmo na verdade eu acordo.

Malú, Nina, Sabiá Cardíaca, Rex, Smit, Coelhinho cinza, Peixe amarelo, Anne, Ratinho Encantado... resolveram apenas mudar de mundo e partiram para ficar com os seus. Agora eu não choro mais por eles porque eles me visitam em sonhos e até brincam comigo!

Florzinha beija a minha face todos os dias.

Eu consigo montar aquele quebra-cabeça da moranguinho de 2.000 mil peças num piscar de olhos.

Ontem fui até o interior do meu avó visitar os meus.

Não existem mais crianças maltratadas, e elas não apanham mais, e correm felizes brincando de esconde-esconde, picula, chicotinho queimado, gincana...

O alimento não é mais vendido, a gente vai até o pomar e colhe frutas, legumes... tão gostosos.

Dentro das casas existe muito amor... tudo é sereno e aconchegante.

Tem muita coisa no meu mundo das coisas que é bem diferente do que vemos no dia-a-dia, depois eu conto mais! Agora eu vou ter que dar atenção a um amigo beija-flor que venho fazer-me uma visita e contar as novidades de como anda seu mundo e as coisas de lá...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Para minhas Protetoras



Dia de Santa Bárbara,
Minha mãe nasceu em Santa Bárbara,
Ela me contou que a santa é minha protetora.
Também...
Eu tenho uma santinha que mãe comprou e benzeu em Santa Bárbara,
Mas a cabeça dela quebrou. Falaram-me que tinha de levá-la até uma igreja e abandoná-la em um canto qualquer...
“Ter santa quebrada dentro de casa traz má sorte...”
Já falei que não acredito e que não abandono minha santinha. Os olhos dela lembram os de minha mãe, tão parecidos, tão azuizinhos como o mar.
Pintei minhas unhas de vermelho em homenagem ao dia quatro de dezembro.
Se eu voltasse no tempo teríamos passado o dia de ontem cortando quiabo na casa de Dona Dinalva, todas nós, as crianças e os adultos. Era uma festa! Quer dizer duas, o dia anterior cortando quiabo e o dia de hoje comendo caruru...
Ainda existe o caruru de Dona Dinalva, é de promessa. Enquanto ela estiver viva...
Viva... acho melhor mudar o assunto...
Porque dia de Santa Bárbara também é dia de lembrar muito de minha florzinha,
Hoje acordei com muita saudade, mais que ontem e talvez menos que amanhã...
Antes de concluir este texto quero fazer um pedido a minha Protetora:

... ... ... ... ... ... ... ... obrigada.

Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura, Ficai sempre ao meu lado para que eu possa enfrentar de fronte erguida e rosto sereno todas as tempestades e batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer a vós, minha protetora, e render graça a Deus, criador do céu, da terra e da natureza: este Deus que tem o poder de dominar a furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras.
Santa Bárbara, rogai por nós!

Amém!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Salva-vidas?

Chego até a popa deste veleiro,
Um vento refrescante atiça os meus pêlos,
Adoro esse vento dos dias chuvosos.
Observando o mundo da popa do veleiro imaginário,
Percebo que a cada instante que segue, me torno mais inteira, e ao mesmo tempo mais contraditória.
Antes, quando ainda tinha meus braços entrelaçados com as necessidades mundanas,
Sofria de coisas, agora imperceptíveis.
Não me cabe mais correr desesperada,
Afogar-me na tentativa de alcançar a terra...
Vou navegando...
Curtindo o tempo das coisas,
Remando conforme a maré.
Às vezes chego a pensar que isso pode ser coisa da velhice,
Mas ainda sou uma pequena.
Eu queria não ter este salva-vidas amarrado em mim,
Eu queria não temer teus braços,
E esperá-lo com os meus abertos.
O que se pode construir dentro de quartos?
O amor pode nascer do cansaço das noites de sexo?
O que realmente possuem os amantes além de desejos, álcool, cigarros...?
Por que só me resta no final das contas o príncipe encantado, o mesmo que me cercava quando era pequena?
Por que não assumir tudo, jogar fora o salva-vidas e encarar você como o rei torto do meu palácio de dúvidas?

Ah, meu bem... perdão por me permitir sobreviver neste labirinto de incertezas,
Por não possuir mais a coragem de outrora,
Por ter me transformado nesta mulher que tem medo de cair
E que sempre se levanta após cada queda...
Eu só queria mesmo era ter a coragem de lhe pedir,
Que numa dessas noites de paixão
Você, anjo torto e insano (e és tão belo assim...)
Com muito cuidado e jeitinho,
Desatasse esse colete que está amarrado em minhas costas,
Depois me abraçasse
Beijasse minha face,
E me colocasse para dormir segurando meus dedos.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Eu e Vincent Van Gogh





- Você sempre quer muito...

Reflito...
Busco palavras para começar este texto e não as encontro. Como é que com tantas palavras eu não encontro nenhuma?

Estranho... estranho. Amo a dubiedade das palavras. Talvez seja isso! Quando somos estranhos na vida de uma pessoa tudo que ela diz, faz, sente deve ser muito... (olha a dubiedade novamente) estranho.

Rememoro...
Sou uma pequena... seis, sete anos de idade. estou encostada na janela da casa de tia Mariá. Sou uma pequena que se sente menor ainda. Durante anos convivi com essa sensação, e busquei artimanhas para não permitir que esse monstro se apoderasse de mim. Sinto-me sozinha, não tenho amigos, não tenho mais minha prima meia irmã... só existem adultos, livros e o tempo como companheiro. Ainda faltam dois meses para as férias acabarem... Se eu ainda tivesse aquela chupeta escondida, se tia Mariá não tivesse jogado as outras fora, se ao menos eu tivesse o colo de minha mãe... Quando eu crescer eu nunca mais vou ficar sem chupeta, vou comprar um pacote bem grande igual aquele que meu pai me deu quando brigou comigo e queria me reconquistar! Quando eu crescer vou ter um monte de amigos, livros, brinquedos novos... vou ter um monte de tudo que quiser ter... quando eu crescer... quando eu crescer vou querer sempre muito!

Eu sei...
Que o muito que hoje eu busco está além das palavras. Que na verdade já foi dito que muito é muito pouco. Que o que ainda tenho muita vontade de fazer é depositar muitos barquinhos de papel naquele rio insano que só existia em dias de chuva na porta da casa de Mãe... parecia sonho, os barquinhos correndo desenfreados, transformando o asfalto em um mar de barcos...
Que quero escrever muitos textos como fazia no passado, ainda que bobos, ainda que tristes, ainda que sofrendo de mal de amor!
Quero ter muito tempo para admirar o pôr-do-sol!
Muitas horas e muita paciência para brincar com meus sobrinhos, especialmente brincar de bombeiro com Guilherme.
Quero muito tempo para amar... fazer amor, e porque não? Beijar muito.
Quero muito não esquecer nunca o cheiro de minha florzinha, os olhos azuis dela, a pele, a luz, o coração! Quero realmente muito isso.
Quero ter bom senso, educação, um jardim com muitos girassóis, gerânios, margaridas, violetas e a sobrevivente sempre muito perto de mim, mudando de casa a cada novo ano, sempre bela ainda que eu esqueça de molhá-la. Mas sempre ali, firme e forte!

Quero muitas coisas sempre, você está certo!
Mas quero mais ainda ter a certeza que não quero abrir mão nunca das, dos muitos, muitas... que acredito ser imprescindível para ser feliz neste mundo de muitas coisas inúteis...

(Telas de Van Gogh: Jardim Florido, La Siesta, Café Nocturno da Praça Lamartine de Arlés,

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


Disseram-me que tenho estrelas tatuadas no corpo,
Um passarinho no tornozelo,
Hálito com aroma de pétalas de rosas.
Uma vez também me falaram que meu sexo rosa
Contrastando com meus seios rosa, parece mesmo um mar de rosas...
Também me fizeram crer por um tempo, que sou medusa,
Que meus olhos são como jardins ensolarados, mares cristalinos,
Céu em dia nublado, reflexo de alma juvenil, espelhos de uma alma perdida...
Já fui chamada de sereia, uma das que tentou levar Ulisses para o inferno...
Falaram que sou uma flor(zinha),
Também uma niña,
Mulher,
Já me chamaram de casa,
Mentirosa,
Feminina,
Cínica,
Desgraçada...
De arte do capeta,
De obra de Deus,
Filha de Yemanjá e de Iansã.
Ah, Oxum também.
Já disseram que eu sou boa,
E que sou má.
Que ando nas nuvens e que tenho pés ficados ao chão.
Já disseram isto e aquilo de mim...
Já contaram todas as minhas contas.

E eu só me pergunto no final das contas
Quem conta um conto aumenta um ponto?
Vixe Maria mãe de Deus...
Quem é essa mulher então que para piorar tudo ainda inventou de dar vida a uma centena de outras mulheres?

sexta-feira, 14 de novembro de 2008


Eu não sabia que eu sabia que meu coração é amarelo e não vermelho. Que o tempo pode fechar mesmo estando um dia ensolarado. Que o tempo pode melhorar mesmo estando um dia cinzento. Que meus olhos na verdade são grandes e vivos mas não passam de um mangá. Que minhas pernas mesmo curtas me levam a lugares inimagináveis... que possuo assas enormes em minhas costas pequenas. Que sou uma boneca de pano e que meus cabelos encaracolados são costurados e de nylon.

Eu não sabia que eu sabia que meus amores partem ainda permanecendo por toda a vida junto comigo, alguns. Que minha florzinha se foi, mas ficou grudada em mim com uma cola mais forte que super bonder, muito melhor! Cola invisível das boas, elaborada por um anjo e registrada por Deus. Eu sempre soube que meus irmão são maravilhosos ainda que possuam defeitos. Meus sobrinhos são meus filhos também. E que vou sentir todos os dias saudades de minha florzinha, ainda que tenha ela colada em mim...

Eu não sabia que eu sabia que nasci para correr o mundo. Interpretar todos os personagens. Escrever milhões de estórias e textos bobos. Morrer de amor todos os dias e renascer todos os dias por causa do amor... Eu sempre soube que sou filha de uma borboleta e que quero voar por toda Ipanema num entardecer bonito.

Eu sempre soube que eu sabia que o rio que lava minha face é o mesmo rio de uma tarde de janeiro. Eu sei que o Cristo que lá está de braços abertos me acompanha com seu olhar protetor, que a lagoa me enfeitiça e que se não ficar esperta terei meu coraçãozinho de borboleta adocicado por um par de olhos azuis com perfume de bossa nova.

Eu não sabia que sempre soube que sabia...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

C + C


Para lembrarmos sempre do nosso primeiro beijo roubado...

Escorrem lágrimas dos meus olhos...
Por mais que tente contê-las essas teimam em escorrer e lavar minha alma...
Queria que estivesse aqui me acolhendo com suas mãos, com seus olhos serenos, e seu jeito meigo...
Quantas saudades eu sinto...
Quantas saudades, Mãe...
No fundo eu sei que olhas por mim... que todos os dias e noites vem me visitar e coloca suas mãos sobre minha cabeça, me abraça, beija minha face e vai embora ficar com os seus amigos do céu...
E eu choro...
Depois que você se foi eu descobri vários tipos de choro:
Choro desesperado,
Choro suave,
Choro repentino,
Choro de uma lágrima,
Choro contido,
Choro rebelde,
Choro revolta,
Choro bandido,
Choro de saudades...
Tipos infinitos... infinito como o céu dos seus olhos...
Mãe, não tenho muita coisa para dizer agora.
Por isso mesmo choro e sei que você me compreende...
Saudade é foda!
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...
Cuida de mim...
Beija minha face,
Abraça-me...
E contém essas lágrimas que não se sustentam mais dentro do meu peito.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Cegueira


Eu não quero mais ver...
“Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus...”
Quem tem desejo de enxergar mais algo nessa terra de cegos?
Onde pessoas matam por dinheiro...
Digladiam-se como leões...
Fingem, mentem, praguejam, maltratam, batem...
Atiram pedras por ciúmes...
E continuam cada vez mais fingindo ser o que não são!
A humanidade perdeu a humanidade,
Cada vez mais quero juntar-me aos necessitados,
Aos bichos,
As plantas...
O Pequeno Príncipe estava certo! Em dias de muita tristeza o melhor é admirar o pôr-do-sol...
E derramar algumas lágrimas também.
De minha janela eu não consigo enxergar o pôr-do-sol...
Mas o amarelo que entra pela janela me traz a paz necessária para ser feliz com muito pouco,
Às vezes alguns passarinhos posam em minha janela...
As borboletas são minhas amigas de todas as horas...
E as crianças da creche que fica em frente a minha janela mandam beijos para o lado de cá e sorriem e choram e brincam...
Por fim faço minhas as palavras escritas por Florbela Espanca:

“Eu não sou boa nem quero sê-lo, contento-me em desprezar quase todos, odiar alguns, estimar raros e amar um.”

sábado, 18 de outubro de 2008

Enquanto seu lobo não vem...


Hoje pensei muitas coisas... relembrei outras e decididamente procurei em vão encontrar-me comigo mesma! Senti uma vontade imensa de retornar ao passado, criança, adolescente, quase mulher... mas aos poucos fui perdendo a coragem, tive uma infância um tanto quanto depressiva, para não enlouquecer assim que aprendi a ler afoguei-me nos livros e através de Vinícius, Florbela, Drummond, Cecília... fui salva daquela assustadora melancolia que acompanha a vida das crianças...

Como adolescente, nem pensar!!! Achava a adolescência um saco... os papos dos colegas, a descoberta do corpo (que talvez em mim tenha sido precoce). As espinhas (dos outros, em mim elas não deram o ar da graça). A morte sempre rondando os amigos, meus animais, familiares e vizinhos... mas aí o teatro se fez meu amante, seduziu-me, enfeitiçou-me, possui-me totalmente. Eu respirava teatro, bebia teatro, comia, fazia sexo, gozava, gozava muito teatro... só que ainda era verde e seria necessário que o tempo passasse para que eu descobrisse os métodos, as artimanhas, a farsa, o sorriso e a tristeza... era preciso que eu me tornasse mulher para que em mim existisse os sentimentos necessários que uma atriz deve conter em seu peito para interpretar com honestidade...

“Quase mulher”: casada... atriz... separada.... reaprendendo a ser só... a só ser... apaixonada de novo... saudade... separação... transtornada... cantora... de novo apaixonada!

Recordo-me que um dia escutei de um rapaz que eu não poderia verdadeiramente nunca ser feliz no amor... Também me perguntei se aquilo era verdade. Para ele eu tinha uma espécie de liberdade e tristeza congênita que atinge a determinado tipo de mulheres... disse que sofria também em me dizer aquilo mas que eu inconscientemente vivia numa redoma de vidro frágil como um cristal que não podia ser quebrado pois era herança dos meus antepassados... herdara de minha mãe, que herdara de minha avó a tal melancolia familiar! E que toda vez que um homem tentava quebrar a redoma eu me transformava em erva daninha...

Eu acreditei por um tempo nessa estória, mas confesso que hoje quando vago na noite, tomando cerveja e algumas vezes até dando uns traguinhos de cigarro, percebo que minha redoma não é de maldade e sim de defesa... eu não sou e nunca fui tão mal quanto tentam me fazer acreditar... não tenho culpa se as vezes dou mais e recebo menos e quando recebo menos me anulo... não tenho culpa se por vezes machuco por falar a verdade e acredito que talvez quem sabe um dia um príncipe consiga retirar a retoma fina de vidro...

Não tenho tanta culpa de coisa alguma, na verdade não quero voltar a lugar algum... apenas viver com ou sem redoma de vidro enquanto não recebo o beijo do meu pequeno principe.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O Céu dos seus olhos...


Estou repleta de silêncio... consumida de um vazio de palavras, esquecida dos verbos e já me esqueci como é mesmo que funciona o mecanismo dos diálogos... eu queria poder ir a marte, não! marte esta cult demais nesse momento, acho que a única salvação seria o B612...

No B612 existe uma flor... talvez ela me consolasse porque o seu Pequeno também partiu sem dizer-lhe se voltava ou não, não sou tão boa companhia como já fui outrora, mas sei que me entenderia com a rosa...

Há momentos em que estou tão vazia que me desespero... como posso estar tão oca? Eu queria ter um relógio que girasse ao contrário e ao invés de o tempo ir para frente ele iria voltando, segundo por segundo para trás... eu daria tudo o que possuo por esse relógio... embora não possua muitas coisas, mas daria meu velho teclado, minhas borboletas secas (eu não as mato, apenas as recolho depois que elas morrem), daria meus livros e meus cds e qualquer coisa mais que o dono do tal relógio se desse por satisfeito... se o tempo voltasse atrás eu acho que seria lindo, dia chuvoso, eu colocando barquinhos de papel nas poças... e minha mãezinha cozinhando, ou passando roupa... vez em quando eu iria até ela e me encostaria em suas pernas, seguraria a barra do seu vestido, daria um abraço e voltaria pros barquinhos repleta do cheiro bom dela...

Não existe relógio que faça tempo voltar... tenho rebubinado a fita da minha vida através do cérebro mesmo. Eu era muito pequena quando senti pela primeira vez o medo de perdê-la... tinha acontecido um acidente na rua onde morávamos e entrei em desespero pensando que o ônibus que bateu tinha lhe atingido:
- Calma minha filha, sua mãe está aqui... calma meu bem... não chore... não chore...
Eu não consigo parar de chorar... toda vez que olho para o céu lembro dos seus olhos azuis... é muito sofrido porque o céu é o espelho dos teus olhos e eu gosto do céu...

Esta noite sonhei que estava na nossa casa e que você passava indiferente a mim... meus sonhos tem sido sempre com você indiferente, mas a indiferença não é proposital é porque no sonho tudo está normal e ainda não sabemos o que aconteceu... nem você nem eu... mas quando acordo eu choro porque volto à realidade e lembro o que aconteceu....

Rezei a Santa Bárbara, pedi a ela para nos proteger sempre, pequei a santa que me destes e olhando para ela reparei mais uma vez que os olhos dela são triste de doer... resolvi outra coisa: lembra que o pescoço dela está quebrado e que me dissestes para coloca-la numa igreja? Pois bem não a levarei a igreja alguma e guardarei-a sempre comigo, onde quer que eu vá... esse lance de trazer azar é mito... a santa quebrou, sim! mais um motivo para ela ficar feliz... mesmo quebrada queremos ela por perto... não quero trocá-la por uma nova... o valor da antiga está justamente no fato de você ter me dado, suas mãos a tocaram, escolheram ela... chorei sobre ela, banhei-lhe com minhas lágrimas e depois abraçada dormi.

Quero que fique bem onde quer que esteja... eu acho que vou ficar bem também, Larissa agora tem um cachorro, engraçado, né? Logo depois se sua partida seu desejo foi concretizado... meu desejo lembra? Era comprar o fusquinha para todos os dias ir visitá-la... passo o fusquinha... passo!

Por que tão cedo? Por que sou chorona agora? Por que estou obinubilada? Por que meus sonhos são estranhos? Por que seu cheiro era tão bom? Por que fico lembrando de você naquela caixa? Por que?... Por que?... Por que voltei a fase dos porquês?

Uma borboleta cinza apareceu morta no chão da sala... chorei!
Sinto a morte muito próxima agora...
E o silencio das coisas também!
Tenho vontade de gritar bem alto...
- Mãe estou com medo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

terça-feira, 15 de julho de 2008


Eu não sou uma borboleta, embora às vezes finja ser e aja como se realmente fosse uma... daquelas bem bonitas, sobrancelhas alteradas, corpo esguio, assas enormes e de cores variadas... e a mais bela de todas... porque se percebe a mais bela apenas por se borboleta e nada mais...

Não sou borboleta... descobri isso na terça-feira passada...

Se realmente fosse uma borboleta veria minhas companheiras partirem e não sofreria ou se sofresse prosseguiria a vida, afinal a minha também já estaria tão perto do fim quanto o da minha amiga que já havia partido.

Não sou borboleta porque reflito sem parar na morte do corpo e antes mesmo de me dar conta meus olhos já estão tão repletos dágua como um rio que corre desenfreado, seguindo seu curso, sua trajetória... porém, também não sou rio e por isso mesmo deveria conter minhas águas como se fosse uma represa, paciente, estagnada e sem rumo...

Eu não tenho palavras, escrevo apenas para dizer que queria ser borboleta e que meu corpo nem precisaria ser muito colorido... bastava que fosse todo amarelo... eu queria ser borboleta amarela, pois assim seria filha do sol e nasceria alegre pela manhã e viveria uma vida efêmera... Alimentaria-me de odores de flores, de pólen, de orvalhos e também de pôr-do-sol... seria eu uma pequenina do espaço, saberia voar, saberia amar melhor (porque seria incondicional) e não sofreria com a morte de minha amiga florzinha... porque saberia que a morte é apenas o recomeço... o começo para um caminho de novas flores e cores... o começo de um amarelo mais intenso!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ressaca



Acordei de ressaca...moral? cachaça? Solidão? Melancolia...
Num sei, num sei mais de nada... “ando tão a flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar!” sei que às vezes ficamos doentes do espírito... sei que gosto de borboletas, que sou atriz, que minha mãe é uma florzinha, que amo tanto meus amigos, que sou apaixonada por cinema, paixão de verdade, incondicional!!!!! Sei tantas coisas e às vezes por alguns lapsos de segundos esqueço-me de tudo e sofro de doença do espírito...
Acho que tudo começou depois que saí do show ontem de Marcelo Nova... show para poucos... e eu ali sentada naquele botequim pensava... ligo pro meu irmão pra ele escutar um pouco? (para os que não sabem,meu irmão mora em Itaituba... resumindo: o cu do mundo. E também sofro de saudades dele e dos meus sobrinhos Gustavo e Guilherme. Mas como ia dizendo depois que saí do show e enchi a cara de cachaça me dei ao luxo de não colocar o cinto de segurança no carro e com a minha cabeça para fora da janela sentir aquele ar fresco do amanhecer batendo no meu rosto, penetrando por entre meus poros, minha boca, meus olhos molhados, meus cabelos encaracolados assanhados, minhas narinas quase congeladas... e tantas outras sensações indescritíveis... não sou a favor de suicídio, sou a favor da vida sempre... mas eu confesso que durante aquele passeio, pensei em morrer e também pensei que morreria feliz... estava eu e meu corpo em perfeita comunhão com o universo. Só faltava chover, meus amigos sabem que eu sou fã mesmo é de dias de chuva!!!

Bem, não morri, não me suicidei e aqui estou tentando descrever que a vida é mesmo um caleidoscópio... cheio de estrelinhas, quadradinhos, cubinhos e cores variadas... a vida é tanta coisa...

Pararei por aqui porque Cazuza resolveu cantar no rádio: “viver é bom nas curvas da estrada, solidão que nada...”

E meu coração de menina apaixonada se derrete por qualquer estímulo... desde que seja doce.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O primeiro...


Não consigo dormir... este tema me persegue, justamente por ser o que mais me acompanha... insônia realmente é um troço muito chato!!! Minha cabeça está borbulhando de idéias. Idéias para um espetáculo com alguns amigos, idéia para um monólogo, para um livro, para um esboço de alguma coisa... idéias, idéias, putz... na verdade desde ontem estou com uma lembrança martelando meu cérebro, surgiu de uma pergunta quase sem pensar de uma amiga:
- Cris, você se recorda do seu primeiro beijo?
- ...
Estranha pergunta que me fez voltar ao passado. Estranha pergunta que me trouxe á lembrança um menino, menino não! Um adolescente de 14 anos, com dentes perfeitos (afinal tinha acabado de tirar o aparelho dos dentes)... eu me lembro na verdade do cheiro da sua boca. Tenho uma obsessão por cheiros, desde sempre... sinto cheiro de coisas inimagináveis: cheiro da pele de todos que já cruzaram meu caminho, cheiro de hálito, de roupa, de cabelo, de mãos, de sexo... isso sem falar nos aromas da natureza. Ah, cheiro de mato, de café, de terra molhada, de chuva (adoro), de maresia, de flor e... de pôr-do-sol, é verdade quem não acreditar que vá ler novamente o Pequeno Príncipe... e não espere que esteja escrito lá que ele sente cheiro de pôr-do-sol! Mas voltarei a pergunta que me trouxe de novamente a um passado quase esquecido... você se recorda do seu primeiro beijo? Fiquei congelada, inerte, estava preparando uma comida, domingo, dia de se alimentar, de preparar algo saudável, de cuidar do corpo, cortar e pintar as unhas, fazer as pernas... desperto do meu congelamento com um prato que cai no chão, não quebrou, às vezes esses pequenos objetos são mais fortes que nós... mesmo sendo de vidro, mesmo que pareçam frágeis...
- com licença, preciso ir até o quarto...
- você está bem?
- Sim, sim...
- Está pálida, está sentindo...
- Um instante...
O nosso cérebro nos prega cada peça estranha... eu estou tonta, meu coração está descompassado, acho que vou desmaiar, preciso de sal pois minha pressão não está bem, necessito mesmo é de um punhado de açúcar por que acho que é hipoglicemia... não, é taquicardia, vou me deitar um pouco, só um pouquinho, o suficiente para esquecer que estou estranha, o suficiente para voltar ao passado...

Estou com os olhos fechado embaixo da escada de uma vizinha, meu coração parece um tambor, tenho medo mas quero está ali, tenho um tanto de vergonha, mas quero estar ali! Tenho receio mas... ele aparece, me olha nos olhos diz para ficar calma. Eu tento sorrir mas não consigo, ele me abraça e sinto mais vergonha ainda porque ele percebeu que meu coração bate forte.
- Não fique com medo... se você der um daquele seu sorriso tudo vai passar, experimenta... sorri, você ri tão lindo. Quer que eu vá embora?
- Não!!! Quero que fique.
- Então é preciso que você sorria...
Ele era um rapazinho que parecia um anjo. Juro!!! Tinha um jeito que era muito lindo, próprio. Era isso que nos seduzia, não tinha ninguém igual lá na rua, os outros meninos não entendiam o que era aquele domínio que ele exercia sobre todas nós... todas sem exceção. Uma por uma já tinha vivido aquele momento... mas agora era o meu, eu tinha esperado ansiosa por ele... contado cada dia. E como tinha demorado de chegar! Por isso mesmo eu não queria que ele se fosse, era o meu, meu primeiro beijo! Por alguns instantes olhei para seus cabelos loiros queimados pelo sol, sua pele brilhante, seus olhos expressivos... gelei. Como ele podia ser tão bonito? Como? Aquilo não podia ter explicação... era uma obra de arte, era um sonho... estava com olhos fechado e senti seus lábios se encostarem aos meus e pensei: que cheiro bom... de orvalho, de pôr-de-sol...
Eu sai caminhando devagar, as luzes todas se acendiam, porque já era fim de tarde, coincidência, que linda coincidência... o sol tinha ido deitar-se, as luzes acendiam e eu estava cheirando a pôr-do-sol, meu coração estava calmo, eu estava calma... Sentia-me uma mulher, eu era agora uma mulher! E estava feliz, muito feliz...

Eu não o vi nunca mais depois daquele dia... tentei consolar-me com um poema de Florbela Espanca, naufraguei em seus poemas desesperadamente, sem entender porque passamos por tantas coisas na vida, porque nascemos e porque morremos... eu virei para mim mesma a “Princesa Desalento” fico tonta pois ainda me recordo de cada verso que recitava baixinho como consolo: “Minh'alma é a Princesa Desalento, Como um Poeta lhe chamou, um dia. É magoada, e pálida, e sombria, Como soluços trágicos do vento! É frágil como o sonho dum momento; Soturna como preces de agonia, Vive do riso duma boca fria: Minh'alma é a Princesa Desalento... Altas horas da noite ela vagueia... E ao luar suavíssimo, que anseia, Põe-se a falar de tanta coisa morta! O luar ouve minh'alma, ajoelhado, E vai traçar, fantástico e gelado, A sombra duma cruz à tua porta...”

Eu não o vi nunca mais depois daquele dia pois meu anjo surfista foi engolido pelas águas do mar uma semana depois, Yemanjá levou-o para junto dela... devia estar enciumada com tantos namoricos e beijos... com tantas pequenas sereias atrás do seu príncipe... mas eu ainda acho que ele foge às vezes quando a rainha do mar está dormindo e faz com que outras sereias fiquem inebriadas e se transformem em mulheres depois de sentirem seu cheiro, seu cheiro doce.

(Imagem: Camille Claudel, "O Abandono", 1905)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Eu


- Sua imagem não diz, mas vi que você é forte... Parece menina, mas já é uma mulher! Porém o mais louco é perceber que você cresce, com cúpula ou não... Regada ou não... È sim, uma florzinha que nasce no penhasco... e não cai! Fica na beira... mas só pra curtir o pôr-do-sol...

desculpa por usar suas palavras... mas precisava me recordar quem sou eu!

terça-feira, 6 de maio de 2008


Eu sinto o cheiro de todas as coisas,
Cheiro de saudade
De abraço
De nuvem
De amor
Do seu sorriso tímido...

Eu vejo tudo
Sua voz triste
Seu perfume
Seu suspiro
Sua respiração...

Tudo desperta meus sentidos...
Aguça meu desejo
Atiça o sabor
Remexe meus pensamentos

E sei
Eu sinto
Eu vejo
Eu quero

Antes mesmo de aparecer
Eu já o pressentia
Eu enlouquecia
Com seu cheiro
Seu sabor
Sua semelhança com Dionísio.

domingo, 4 de maio de 2008

Eu sobre mim mesma

- Aonde você pensa que vai?
- Seguir...
- Qual estrada você prefere?
- A que está a minha frente.
- Por que?
- Porque eu sempre escolho a estrada que está a minha frente.
- Entendo. E o coração?
- Como?
- O coração... como tem passado?
- É... está batendo...
- Não seja engraçadinha, você entendeu a minha pergunta, não seja evasiva, aliás nem combina com você.
- Está bem, sem dores, sem mágoas, às vezes ainda sente saudade...
- De quem?
- De um rapaz.
- Qual deles?
- Esse interrogatório todo, é realmente necessário?
- Claro que sim! Você deveria me agradecer por estar sempre te fazendo ser realista e cada vez conhecer-se melhor. Poderia muito bem deixá-la igual às pessoas que... você sabe, ser mais uma na multidão e sentindo-se incompreendida pelo universo, pelos psiquiatras, pelos estudiosos, pelos amigos... pelo... pelos....
- Não seja arrogante, isso soa com uma prepotência sem tamanho...
- Não seja ingênua somos a mesma pessoa, então é bom ter cuidado com as palavras, principalmente nesse momento...
- Certo... você quer saber de quem meu coração sente saudade?
Daquele moço, o dos olhos de amêndoa, aquele...
- Aquele...
- Aquele de sempre, Caracas quem disse que eu preciso me expor para todo mundo, fazer com que a minha vida seja um livro aberto?
- Você própria! Faz parte do seu perfil, do seu caráter, da forma como você sempre se mostrou para o mundo, agora é tarde... antes que te condenem, vamos, fale a verdade! Você vai se sentir melhor, acredite!
- Certo... sinto saudade do mesmo, o que sempre estive, que sempre foi dono, que me condenam, do rapaz do passado, aquele que tive medo de assumir e que nunca me deixa em paz... o do verão, de Iemanjá, da via crucis. Ele... ele... ele... ele o mesmo menino artista e louco, incompreendido, perdido e dono do meu coração. Falei!
- E agora?
- Agora o quê?
- Sente-se melhor?
- Claro que não! Você complicou tudo... atrapalhou toda a misancene, estragou as únicas fitas que restavam, eu já estava conseguindo me enganar tão bem... estava tão segura. Por isso que às vezes tenho muita raiva de você! Você é muito cruel, principalmente comigo, não tem nenhuma tolerância, me deixa triste e sempre quer me testar. Por que isso? Quem disse que precisamos estar tão seguros de si? Quem disse que necessitamos ser tão forte? Você não é a dona da verdade e eu sei que você esconde também um monte de coisas... só não fico jogando-os na sua cara, te maltratando, eu respeito tudo que você quer esquecer, finjo sempre que esqueci. Por exemplo, eu fico te lembrando todo o tempo dos seus medos? Deveria fazer isso... te lembra-los um por um... fazer você resolver eles, encará-los, não é verdade?
- Não, não precisa...
- Não mesmo? Você não acha que eu deveria te ameaçar... Dizer-te para assumí-los?
- Não! Esquece. Você está certa, eu sou muito cruel com você. Mas não é por mal... é por proteção gosto de você, te acho o melhor de mim, mas queria te ver mais forte, menos coração de manteiga...
- Mas você já é forte demais por nós duas... já imaginou? Se eu fosse como você, seriamos a própria Bette Davis em “A Malvada”...
- Ahahahahahahaha...
- Ahahahahahahaha...
- Por onde você vai...
- Vou a qualquer lugar que você queira ir.
- Então vamos seguir em frente...

terça-feira, 11 de março de 2008


Porque ela faz cinema?
Porque para ela a vida é um filme.
Os amores são filmes,
Os passos são cenas,
Todos os elementos são cenários,
Cada piscada dos olhos são flashs,
Ela faz cinema,
Porque está viva,
E adora assistir making of,
Selecionar cenas e rever bastidores.
Ela é cinema,
Ela é trilha,
Ela é áudio,
Ela e visão.
Faz cinema para acreditar que tudo é um sonho,
Mas belo que a vida real!
- Ação!

domingo, 9 de março de 2008


A bíblia diz que o bom filho a casa retorna

Quando me vejo novamente sentada aqui,

Construindo frases,

Poemas

Colocando as palavras umas conectadas com as outras

Como se fossem tijolos sobre tijolos,

Com a intenção de refazer nossa casa,

(nossa casa para mim, são os poemas que te escrevo)

Retorno para ti,

Porque na verdade nunca nos separamos de fato,

Como falei no texto anterior (você sabe qual)

Foram necessários todos os maus entendidos para que nunca nos perdêssemos,

Foram necessários:

Além do encontro dos olhos,

A caminhada na praia, com aquela lua enorme iluminando nossos rostos

A areia açoitando nossos corpos...

Pausa!

Como foi mesmo que aquela cena aconteceu?

Ela realmente aconteceu ou por frações de segundos nos encontramos

Dentro de um filme de Glauber Rocha?

- Como gostaria de ter uma câmera aqui agora, filmar seus pés, nos dois... (você)

- Contentaria-me com uma simples máquina fotográfica! (eu)

Ação!

Nossos encontros às escondidas,

Os receios todos,

Seus poemas

Meus

Retorno a nossa casa,

Estive por algum tempo inebriada,

Navegando entre corpos estranhos...

Sem comentários!

É tão fácil nos perdemos de nós mesmos,

É tão difícil nos acharmos,

Sem julgamentos.

A bíblia diz que o bom filho a casa retorna,

Não sei bem porque lembrei-me disso agora.

Mas retorno para seus braços.

Porque eles estão dentro do poema,

Logo...

Retorno para minha casa.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A droga e a abstinência


Por que eu escrevo?
Porque tudo o que existe em mim quer ganhar vida...
E as palavras mais humildes,
Não sonham em subir aos palcos e receber aplausos.
Contentam-se (e são felizes!) em virar escritos
Serem lidas por olhos atentos
Hoje...
Em especial ele (o escrito) quer ser lido
Por um par de olhos azuis...

Não sei porque isso acontece mas acontece e independe de mim.
Lembro-me ainda de ti,
Ontem sonhei... revivi coisas...
E um aperto no meu peito também existe independente de mim...
Nosso silencio velado,
Acordado.

Meu amor, Afrodite continua mexendo os pauzinhos...
Pior... muito pior...
Ela os enfia em meu coraçãozinho sonhador como se fossem canivetes...
E malvadamente os empurram devagar, mexe, gira lentamente... enfia-os mais um pouco e quando eu penso que ela está satisfeita...
Nada! Recomeça todo o processo devagar, sangrando ainda mais...
É uma dor muito aguda, latente...
A dor do não vivido
Do sonho perdido!
Estúpida droga chamada AMOR...
E esse mar parado.
Essa canção no mp4...
Esse aroma no quarto
O cheiro em minhas mãos (também ficaram, porque são realmente parecidos)
Estou a vagar...
Noites, outras bocas, loucuras, lacunas...
Manhãs, presságios, saudade, saudade, saudade...
Se não vistes para ficar
Por que chegastes?
Eu não tenho medo do escuro, nem de silêncio, nem de ventania, quase nãotenho medos!
Só não me resta tanto tempo... talvez!
Eu tenho lágrimas que se transformam em textos...
Eu tenho um buraco aqui dentro: onde toca essa canção repetitiva...
Eu tenho um milhão de possibilidades.
E um amor perdido!

Obra: Auguste Rodin, The Metamorphos

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Para Kan



- Continuo esperando Godot!
- Esperando Godot?
- Sim, ele chegou, acho que chegou...
- Você não sabia que ele havia sumido...
- Estava esperando que ele aparecesse.
- Lembrei que você havia dito que tinha ido onde eu não podia ir!
- Engano seu... também fui... fui além, além mar... onde só os deuses podem se surpreender... onde Afrodite recolhe suas contas e escolhe seus pares...
- Sabia que Godot morreu? Igual a Cacilda Becker! Adoro Cacilda e o Caetano...
- Preciso ir...
- Não!!! Me leva com você!!! Não quero ficar aqui sozinho, sem você! E ainda esperando Godot!
- Meu bem, eu estou aqui...
- ...
- Achei que você tinha ido embora!!!
- Não te deixaria nunca só... era o telefone... estou confusa! Como?
- Me põe no colo e me dá do seu leite para me acalmar...
- Você bebeu saké?
- Não!!! Pareço bêbado???
- Não, parece “desprendido”
- Ou seria desaprendido?
- Acho que nós estamos desesperando Godot!
- Mas as palavras confundem mesmo.
- Tudo do que é e o que não é!!!!
- Vixe... eu precisava de uma cerveja... e na minha geladeira só tem leite!
- Mas você nem me deu atenção... sumiu... igual Godot! Vou sair cabisbaixo do palco... e depois apagar as luzes... quieto... sem uma palavra.
- Disseram que Godot tinha morrido.. há controvérsia... vou continuar a esperar!
- Vou partir! Não sei... acho que tenho que ir!
- Não vai... fica comigo, espera comigo, acende a luz e fica comigo!
- Sério?
- Ele morreu de quê?
- Sei lá, isso não é tão importante... o mais importante é nosso diálogo... esse encontro... nós dois aqui, juntos esperando ele!
- E agora, que fazer?
- Esperar!
- Mas se ele morreu, para quê esperar?
- Esperar a metamorfose... que o tempo se cumpra... as dores passem e a gente reaprenda a viver!
- Mas nós não podemos, estamos presos ao passado!
- Não!!!! Podemos sim!!! Podemos SIM!!!
- Acho que vou partir.
- Espera meu bem, não me deixe sozinho!!!! Volta, Volta!!!!
(ela sai do palco... ele chora...)
- Fim!!! Como a maioria das peças acaba sem um final decente!!!
- Mas eu voltei... estava escuro, não havia ninguém adiante, voltei para te dar as mãos e permanecer junto nessa espera interminável!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

"Minha Vida Sem Mim"


Este é o primeiro texto do meu blog que não me pertence: ele é a cena final do filme “Minha Vida Sem Mim” de Isabel Coixet. Por favor, fieis e poucos leitores queridos, se puderem assistam-no, mas assistam-no sozinhos, como eu fiz dezenas de vezes... (como assistir ao pôr-do-sol), cada vez que fiquei triste, cada vez que necessitei repensar minha vida! Não esqueçam... Sós...

E nada será como antes, posso afirmar!
Bom filme a todos!

“- Você nem sequer lamenta
A vida que não vai ter...
Porque você já está morta
E os mortos não sentem nada
E nem lamentam,

Meu querido Lee...
Quando receber esta fita,
Saberá que estou morta.
E, bem, tudo mais.
Talvez você esteja
zangado comigo, ou magoado...
ou triste ou chateado. Tudo
ou, talvez, isso tudo junto.
Saiba que me apaixonei por você.
Não ousei lhe dizer porque...
Creio que você sabia...
E eu não sabia que tinha
Tão pouco tempo.
Se tem algo que não tive
O bastante ultimamente,
É tempo.
A vida é bem melhor
Do que você pensa, meu amor.
Sei disso porque...
Você se apaixonou por mim
Apesar de ter visto...
Quanto menos, 10% de mim?
Talvez 5%.
Talvez se tivesse visto tudo,
Não teria gostado de mim.
Ou teria gostado
Apesar de tudo,
Acho que jamais saberemos

Uma última Lee,
Pelo amor de Deus...
Pinte suas paredes e compre uns moveis, está bem?
Não quero que a próxima
Mulher que levar para casa...
Fuja antes de ter a chance
De conhecer você.
Nem todo mundo é louco como eu.
Adorei dançar com você!”

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Escrevo inebriada, consumida, contaminada... ensandecida... com uma coisa chamada saudade...
Escrevo como uma loba no cio...
Como uma tigresa abandonada
Que amamenta seus filhotes.
Uma menina carente de amor, de afeto, de carinho...
Aonde foi que me perdi?
Onde foi que te encontrei?
Por que caístes tão rápido dos meus braços?
Recordo-me do seu cheiro...
Da sua pele,
Seu cheiro,
Cheiro de sua pele
Sua nuca
Seu sexo
Seus cabelos...
Aonde foi que apareceram outros?
Outros olhos – pares de olhos que não conheço...
Outros cabelos, nuca e cheiro?
Eu só cheirei a sua pele
A sua nuca
Os seus pelos
Seu sexo...
Você está partindo,
Sinto...
Eu estou partindo,
Sei...
Quantos dias seriam suficientes para que permanecessemos?
Quantas madrugadas?
Você parece me substituir muito rápido...
Esquecer-me...
Eu também.
Por que?
Meu benzinho,
Reponde por que somos feitos da mesma porção de matéria?

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Por tanto

Tanto te quis
Que fostes
Tanto te esperei
Que cansei
Tanto sofro da solidão
Que faço dela meu amante secreto
Pergunto-me onde cabe tanto querer
Li um dia que “o amor é um sujo brinquedo”
Por tanto como um punhal manchado de sangue
Eu recolho minhas dores
Contraio-me apenas
Tanto te queria
Que já não sei mais nada
Tanto te procurei
Que lentamente vou esquecendo seu rosto
Naquela madrugada de álcool
Eu te dei meu cheiro
levastes ele em suas mãos
como quem carrega um bebê no colo
Sugastes de minha boca o aroma do leite
carregastes meu néctar em ti
deixastes o teu em mim
suas gotas de suor na minha pele
seu orvalho dentro da flor...
bálsamo...

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Para minha Florzinha!



Minha amada mãe
Preciso repousar minha cabeça em seu colo e dormir
Como quando pequena
Você me ninando daquele jeito tão seu...
Com suas mãos. Lindas mãos. Macias mãos. Cheirosas mãos...
Acalentando-me, ninando-me...
Ah! aqueles mimos... aqueles cheirinhos amorosos, sentimentais, celestiais...
Agora sofro... agora essa distância... esse medo de perder-te...
Desculpa minhas lágrimas... Sua pequena está triste,
Por ver-te também tão triste, solitária...
O que posso fazer, mãe?
Eu que sempre estive tão próxima?
Tão dentro?
Tão apaixonada por você?
Te amo tanto...
Te quero tanto aqui comigo....
Por que sinto essa falta?
Por que essa tristeza?
Recordo-me de quando criança...
Chorando e com medo de perdê-la:
“Mãezinha do céu, eu não sei rezar
eu só sei dizer que quero te amar...”
chorando eu cantava a canção...
eu não entendia
que era a mãe de Deus,
Imaginava-te no céu, longe mim... e sempre chorava...
- Por que choras, meu bem?
- Não sei...
- Então se não sabe, não precisas chorar!
- Eu sei, tenho medo!
- Medo que quê?
- ...
Te amo!
Não partes, não me deixas sozinha...
Fica, fica, fica mãe!
Seu coração é o meu coração,
Sua alma minha alma,
Seu cheiro, meu cheiro,
Seu sorriso o meu,
Seus olhos azuis... tão lindos como o mar de Yemanjá,
Seus seios claros como os meus!
Seus lábios finos...
Seus cabelos finos hoje clareando feito neve.
Só tenho você!
Sô... Tenho-te...
Te amo...
Não vai...
Fica
Fica
Fica minha florzinha...

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Os amantes



Toca o telefone... atendo... depois de escutar, de responder (ainda que monossilábica) penso em minha vida! Eu posso sim voltar a te amar... tenho dúvidas se todos os amores não são mesmo iguais... sabor, cheiro, gozo, perdição, lembrança...

Posso sim voltar a te desejar, tentar refazer minhas contas... Contar-te novas estórias, te fazer rir, te seduzir, maltratar, deixar-te louco, entontecido a me procurar pelas ruas, pelos bares, pelos braços... Mas lhe trazer a serenidade!

Eu posso voltar porque sou e serei sempre livre... por isso que amo tanto, que choro, que me desespero, só por isso eu consigo “entrar e sair” a qualquer instante, mesmo ainda estando, mesmo ainda sendo, mesmo ainda inebriada! Não temo a noite, não temo a solidão...

Você sabe quais são os meus temores:

- Temo as paredes e as janelas sufocantes!
- Os pedidos suplicantes!
- As artimanhas da clausura!
- O “estarei sempre aqui”!
- Os...

Eu não temo correntezas! Nado (mesmo com pânico e sem saber) até o fundo, contra a corrente...e se preciso for afogo-me nos braços de Yemanjá!

Eu posso voltar a te desejar, sim posso relembrar nosso passado, seus olhos, Trancoso, sua calma eterna, sua complacência, seu beijo, seu sexo, seu eterno amor aconchegante.

Só é preciso ter um pouco de calma...
Deixar que o Pequeno Príncipe desapareça!
Que a gente arranje um novo planeta.
Não tente entender o nexo.
Vou perambular na rua,
Sofrer de melancolia,
Derramar lágrimas ao vento...
Me sentir perdida novamente,
Carente,
Sozinha...
A tática não é essa?
Saber esperar o momento certo?
Então... tenha um pouco mais de paciência,
E logo, logo sua flor volta a ficar em paz,
Retoma a trilha,
É só o tempo de respirar,
Flexionar as pernas...
Mexer um pouco a cabeça.
E meu bichinho...
Você ao telefone está cercado de coisas,
De luzes, de holofotes, de câmeras e cinema...
Porém sua pequena sofre de melancolia, passa seus dias solitários,
Rememorando sobre um Pequeno que parece que já partiu e só eu ainda não entendi!
Você sabe que sou bobinha as vezes...
Eu posso sim voltar a te amar...
E novamente navegarmos dentro dos verdes dos nossos olhos!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

"Só se ama o que não se possui completamente." - Proust



Eu acho que estou me repetindo... depois que você partiu eu tenho vivido de uma forma diferente, quando penso em nós e no que vivemos eu sinto um misto de saudade e alivio!
Eu gosto de você, eu quero você aqui do meu lado, me olhando nos olhos... dentro de mim! Todos os meus últimos textos são escritos para você... e por isso sinto que estou me repetindo! Meu amor, eu não quero deixar de escrever para você. Mas quero que você saiba que quando te escrevo eu não tenho esperança de nada, meus escritos (melosos ou não), são criados para desopilar o fígado, desabafar meu coração, extrair essa dor de minha garganta... eu te escrevo porque as palavras são pensamentos suplicantes... elas me enlouquecem, não me deixam em paz! Nem mesmo quando estou dormindo!elas querem te dizer muitas coisas, tantas coisas, coisas e mais coisas...

Depois da sua ultima foto eu retornei ao “nosso livro” e resolvi transcrever o texto dele porque eu não teria como ser mais precisa e poética que Exupéry:

“Assim eu comecei a compreender, pouco a pouco, meu pequeno principezinho, a tua vidinha melancólica. Muito tempo não tiveste outra distração que a doçura do pôr-do-sol...”.

- Gosto muito do pôr-do-sol. Vamos ver um...

O Principezinho do seu planeta podia admirar quantos pores-sol ele desejasse, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E contemplavas o crepúsculo todas as vezes que desejasse...

- Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes...

E um pouco mais tarde acrescentaste:

- Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol...
- Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três?

Mas o principezinho não respondeu...”
...

Eu também posso admirar sua foto quarenta e três vezes, se é que já não o fiz...

Eu sei que você tinha que partir, meu benzinho... eu sei que eu ficaria sem tuas mãos na madrugada... que teria que buscar outros afagos, outras mãos para acariciar a minha pele, outras salivas para umedecer minha boca...

Mas você fica, porque todas às vezes que eu escutar o som do sol se pondo eu lembrarei da sua ausência e você por um segundo que seja estará em mim. Quando ouvir o canto dos pássaros, também cantarei junto entoando para você uma canção. Vinicius dizia que o homem tinha que sentir um (grande) amor por alguém, ou então deveria sentir muita falta de não ter esse alguém... esse amor...

Eu estou me repetindo...
A paixão deixa a gente meio bobo, aliado então à saudade (vixe!) ficamos fadados a uma eterna melosidade, um olhar meio entristecido e o coraçãozinho sempre apertado... e é daí que vem a repetição...


Se você diz que somos parecidos então sei que também sentes o que sinto e que em cada canção que você toque eu estarei também cantando, em cada gesto seu, em cada palavra que você pronuncie, eu estarei sempre, presente... mas sabemos que temos que partir, e assim sendo... vamos ficar bem, né?

Dizem que as mesmas mãos que afagam...

Eu te amo!
E todas as vezes que sentir um aperto no coração e meu nariz ficar vermelho...
Seu passarinho irá contemplar um pôr-do-sol (ou uma foto)...
E dizer baixinho:

- Eu te amo...
- Eu te amo...
- Eu te amo...

E depois balbuciar seu nome.

Foto: Almir Jr.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Apelo a um transeunte



Eu não sei como dizer
Mas tem uma florzinha que está morrendo
Ou pensa estar...

Existe uma florzinha
Num dia de sol escaldante,
Sufocada pelo vapor do asfalto!

Ela ali,
Sozinha
A espera de um olhar sensível,
Que um transeunte louco e poeta possa enxergá-la

Ela sabe que algum deles irá encontra-la,
E antes que suas pétalas caiam e ela morra...

Uma mão forte irá recolhe-la, cheira-la e guarda-la
Num mundo mágico...
Num planetinha distante,
Pode não ser o B612,
Mas basta ser um onde só existam
Ela e esse ex-transeunte,

Um Pequeno atento...
E dono das chaves!

Perto Demais...



Ainda sonâmbula
Acordei com uma imagem na cabeça...
Imagem de filme....
As imagens que permeiam meu cérebro são sempre de filme, de flor ou de musica
Ah, já ia me esquecendo: de cheiro também...
São gotas transparentes, translúcidas. Aparecem no meio do nada... de uma cena, de uma caminhada, de um lapso de vazio de pensamento.
E ela (a imagem) instala-se , dominadora e fugaz!
Só me deixando em paz quando me direciono para fazer o desejo dela: escrever-lhe um texto!
Belo ou não, inteligente ou bobo, estanho ou fútil...
Essa imagem me fez despertar hoje,
Porque aos poucos sei que vou me desligando,...
Sinto esse desenlace,
Já não mais os pés que me levavam a ti sentem o desejo de marcar meu retorno.
E meus pés são tão firmes quanto a minha cabeça,
E confesso: por mais que tente entender o que aconteceu eu não consigo...
Mas isso também é bom! Entender as coisas é uma forma de deixar de ser inocente...
Eu às vezes finjo não entender, é um jeito de ... ah, sei lá... ser eu mesma...
Cabeça de vento, cara de passarinho, jeito de flor...
Essas coisas são um tanto quanto imperceptível...
A imagem da qual mencionei e que me persegue quer virar texto... embora eu hoje quisesse apenas ser silêncio!
O silencio é amigo da liberdade, é uma coisa um tanto salvadora.
Eu queria não te falar nada... queria olhar algum pôr–do-sol... alguns... virar minha cadeira para o lado e ver outro e mais outro e mais outro...
Mas não me sinto triste...
É porque ver o pôr-do-sol é ficar em silencio absoluto.
Acho que nasci para isso.
Amar os outros! E como já dizia Clarice também para escrever...
Sobre a foto...
Não tenho muito a contar! Um lance de inspiração contida, a cabeça cria mas as mãos não reagem.
Tudo bem!
A sempre uma lágrima derramada em algum lugar...
E se não consigo chorar,
É porque a falta já não me consome tanto.
E sei que se as lágrimas saem dos olhos, é porque também há sempre um lenço a ser estendido...
Uma mão atenta,livre de aprisionamento(s)!
A espera de uma lágrima para beijá-la...
Uma flor a espera de uma gota de água...
Um passarinho a espera de uma poça!
Sem inspiração!
Tudo bem...
Dias de sol e dias de chuva...
Não entendo...
Mas é bom não entender!
Citando Clarice: “ não entender é bom... mas as vezes é bom entender até mesmo o que não se entende...”
Acho que era assim... se não for...
Suplico que pelo menos uma lágrima brote de meus olhos!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Aquela deusa que nasceu da espuma do mar!



Fomos os escolhidos por Afrodite,
Todas as loucuras
Todas as nossas luxúrias
Vem dela...
Temo pelos nossos corpos, nossa porção limitada de matéria,
Porque já não conseguimos mais raciocinar,
Estamos possuídos por ela...
Por essa deusa sem limites, por essa mãe que nos enfeitiça...
Que fazermos?
Para onde irmos?
Não temos como fugir do nosso destino,
Ela nos acompanha aonde quer que estejamos,
Por isso tanta paixão, Por isso tanto desejo,
Por causa dela poderemos acabar presos nessa teia de intrigas!
E ainda que busquemos entender porque,
Não existe a resposta
Para nós nada fará sentido...
Mas para Ela...
Quanto menos fizer sentido, assim melhor será!
Ela remexeu nossas vidas,
E decididamente não estamos num amor combinado...
Onde as coisas acontecem de maneira linear, arrumada, planejada...
Estamos fadados a tristeza sem fim, a falta, o custo, o desequilíbrio, ao eterno perigo!
Não sei o que fazer...
Vamos jogar flores ao mar...
Vamos suplicar aos ventos que ela olhe por nós...
E que tente controlar em nós essa desmessura, esse excesso e loucura!
Que os outros Deuses nos acolham e a sensibilize para tenha um pouco de dó de nós...
Vamos Orar a ela.
Vamos suplicar que tenha mais complacência conosco!
Embora segundo a lenda...
Não há o que se fazer!
Nem rezas, nem suplicas, nem choro, nem velas...
Os escolhidos de Afrodite...
Amam...
Amam até o fim...
Ainda que o fim...
Seja morrer de amor!

(I am Beautiful - Auguste Rodin)


Eu não preciso ter pressa
Pressa para que?
Se tudo que está acontecendo já acontece num tempo próprio...
Eu não posso querer dar saltos maiores que minhas pernas,
Nem esticar meus braços além do que eles podem alcançar
Acho que a flor também tem medo quando ainda está no adubo...
Apenas um broto.
Mal sabendo no que irá lhe acontecer quando despertar para esse mundo...
Pressa?
Não necessitamos...
Mesmo que você vá embora de uma vez e deixe o passarinho avoado...
Entontecido,
Entristecido,
Talvez (quem sabe) até perdido por algum tempo...
As coisas são as coisas,
O tempo é o tempo...
E como já lhe falei por mais que esse filme pareça ter um “The End” óbvio...
O roteirista dele ainda não se deu por satisfeito...
Ainda rememora,
Relé o que está escrito e repensa o final dessa estória!
O que sei, o que desejo... é que esses olhinhos azuis voem de volta para a flor!
E aqueça ela, encoste seu corpo no meu corpo e volte a dormir sossegado...
Sem pressa.
Pressa?
É tudo que não necessitamos...
Mesmo que o passarinho morra (de morte morrida ou de morte matada)!
Porque a pressa segundo a lenda popular é a inimiga da perfeição!
E só somos (quase) perfeitos porque somos iguais...
E é por isso que fazemos tantas loucuras!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Aos Pequenos...


O quinto planeta era muito curioso. Era o menor de todos. Mal dava para um lampião e o acendedor de lampiões.... o principezinho não podia atinar para que pudessem servir, no céu, num planeta sem casa e sem gente, um lampião e o acendedor de lampiões. No entanto, disse consigo mesmo:

“talvez esse homem seja mesmo absurdo. No entanto, é menos absurdo que é o rei, que o vaidoso, que o homem de negócios, que o beberrão. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porem, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita”.

Certa vez Fernando Pessoa disse “ O abismo é o muro que tenho, ser eu não ter um tamanho” Não estou esses dia com inspiração.. por causa do nariz (aquele vermelho que falei na estória anterior). A verdade é que depois que Ele partiu... tenho percebido que algo se fortalece em mim, porque antes eu ficava embriagada de andar sozinha na madrugada... agora vejo seu rosto na lua, na rua, na terra fofa, nas plantas que cato embriagada de cerveja...

Não tenho muito a dizer,
Se ele tem uma máquina que transforma em estrela e em flor as belezas... é porque ele é um artista e a mim que sou uma flor não tão iluminada quanto meus pensamentos... fico a pensar em rosas, em capins e sempre vivas.
Porque uma vez fui girassol e tinha a capacidade de ver o rosto dele no meio de mim...

E me fortaleço e fico ainda mais precisa,
Porque cada falta, cada ausência dele, me faz ser forte lembrando que tudo que passou, passará...
Sou mesmo forte e fraca,
Fraca porque se me arrancam de mim. Fui,
Mas sou forte quando possuo repouso em um jardim florido, com água e sol e chuva...
E às vezes um Pequeno me visita e faz de mim uma fortaleza de cores...
Uma profusão de palavras.
Viro passarinho,
Nado na areia, mergulho na água e volto para meu espaço,

Confesso: eu não entendo o acendedor...
Porque apenas consigo amar o principezinho..


Quando eu era pequena eu sabia voar.
Não sei ao certo em que momento eu desaprendi,
A voar!
Ainda adolescente eu acreditava em amores, em paixões fulminantes,
Cresci e ainda levava comigo a capacidade de olhar nos olhos, de detectar mentiras...
Eu às vezes esqueço que eu cresci e sofro porque quero muito voltar a voar,
E quero também olhar nos olhos...
Ainda ontem, hoje! Ficou impregnado em meu corpo um cheiro seu,
Eu não queria te dizer que quando meu nariz fica vermelho é porque eu queria voar...
E como não consigo,
Fica na garganta um aperto,
Por não saber mais voar e por querer chorar!
Como não posso chorar! (na sua frente).
Eu só queria te pedir, que me deixe ir...
Talvez um dia eu reaprenda a voar,
Mas se você ficar me segurando eu nunca vou saber de verdade se (re) aprendi, ou não!
Eu deixo você ir...
Eu suporto essa dor...
E depois que você foi embora
Meu nariz não ficou tão vermelho,
Porque eu pude chorar!
Eu sei me cuidar,
Bebo leite,
Faço amor,
Colho flores,
Bebo cerveja escondido,
E sempre admiro o pôr-do-sol
E quando durmo,
Alço vôo bem alto e fico observando a cidade lá de cima,
É tão bela...

Adeus!
Quando chegar a noite,
Eu te visito em sonhos...
Te adoro!

(Ah, com o nariz vermelho eu fico menos inspirada!)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sobre corpo e flor ou corpos e flores



Me ponho a pensar no corpo,
Ou seriam nos corpos?
Apenas me ponho a pensar,
Pensar que poderia ser uma flor,
E talvez não pensar em nada,
Porque acredito eu, que quando se está em harmonia com o universo
Acho que não devemos pensar em nada,
Apenas sermos,
Apenas existirmos.
Mas agora, nesse exato momento, no qual observo uma fotografia
De um corpo,
Sem roupa...
Penso na flor,
Que não pensa,
Que não tira a roupa
E nem a veste,
E assim sendo é sempre bela, sempre-viva!
Corpo para o dicionário é qualquer porção limitada de matéria,
Os definidores das coisas são seres estranhos...
Alguns também se referem ao corpo como cadáveres
“ta lá o corpo estendido no chão”
Num outro dicionário encontrei: busto!
Este se ajeita direitinho com a fotografia
Uns diriam: tampa e panela, encaixe perfeito!
Corpo pode ser tantas coisas, a parte de tantas coisas
Corpo disso... corpo daquilo...
Mas não é flor...
Eu tenho escrito tantas coisas,
Querendo falar sobre tantas coisas,
Que me alegram,
Que me entristecem...
Porque estou viva!
E viver é também isso...
Ser um corpo alegre e também um corpo triste,
Despertar com meu corpo às vezes apático e com ele admirar 120 pores-de-sol quando sentir vontade, ou saudade, ou...
Vocês entendem o que quero dizer, né?
Eu sou um corpo igual há um milhão de outros corpos...
Exatamente igual,
E por causa disso acho que o Pequeno Príncipe foi embora,
Porque eu não sou diferente dos outros corpos.
Pelo menos é o que ele acha.
Que se os outros corpos, que são uma porção de matéria e que podem um dia virar cadáveres, despertam para o mundo sendo e sentindo-se iguais aos outros, não se percebem flores!
E podem ser corpos tão descartáveis quanto as poses e efeitos que os mesmos podem imprimir!
É, só me resta esperar!
Que o pequeno Príncipe encontre tantas flores iguais a mim, mais tantas, tantas e tantas... que possa perceber que meu corpo não é igual a um milhão de outros corpos...

(foto: Almir Jr.)

Além do mar



Havia um mar ali estendido em minha frente
Um lençol azul, embalado num vento com cheiro de terra distante
Eu sempre ficava daquele jeito,
Sempre,
Nos mesmos horários
Repetindo-me... como um relógio de parede,
Procurando olhares,
Catando os segundos, que se repetiam...
Sentindo cheiros que já não mais sabia se eram verdadeiros ou imaginários,
Porque se eu já me repetia há tanto tempo,
Porque os cheiros seriam reais,
Subia-me vez por outra um desejo de correr aos teus braços,
Buscando afagar-me em seu peito,
Suas mãos que já me possuíam sem pudores...
Cheiro de lençóis molhados, suados, de pele
De um pecado cúmplice, ardente...
Eu não sabia explicar
Como era que chegava até mim,
Vinham sorrateiros, enquanto ficava parado,
Apenas olhando além do mar...
Vou me repetir:
“não se deve tocar em nada com o pensamento, pois disseca o coração”
(foto: Almir Jr.)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Para Manoel e Marcus e Cris





Meus amores:
Sempre-vivas são plantinhas que dão no serrado de cores variadas que depois que atingem seu “estagio adulto” vivem até 50 anos... sempre do mesmo jeito, preservando suas cores e beleza!
Recordo-me daquela noite mágica “meio tontinha” colhendo capim com um desejo incomensurável que fossem sempre-vivas...
Aquele gesto, meu já tão amado Manoel! Era para que o dia seguinte não acordasse, porque tão logo ele despertasse, eu e marquinhos ficaríamos com um aperto em nossos corações, uma saudade desses seus, tão verdinhos e sinceros olhos...
Você estava errado! Quando colhi os tais capins, na verdade não era para que eu ficasse sempre viva... para que você não partisse para longe, nos deixando essas lembranças tão belas e essa saudade no peito...

Mas, sei que não devemos ficar tão tristes, as verdadeiras sempre vivas... nos deixam um consolo... temos uma vida inteira pela frente, se o acaso nos uniu ele deve ter em mente um fim para essa estória!

Fui buscar na internet uma foto das sempre-vivas verdadeiras para te presentear... e encontrei este texto:

Seguindo à risca o teor expresso pelo seu nome, essa planta traz de volta, a vida para quem se esqueceu de que os problemas não se resolvem da noite para o dia e se machucam ao buscar respostas rápidas, quando é preciso ter paciência. Pessoas assim acabam se esgotando com circunstâncias adversas, perdendo a vontade de viver. A Sempre-viva revitaliza e regenera esse tipo de desgaste.

A Sempre-viva é uma planta medicinal com propriedade adstringente indicada para o coração, diarréia, erisipela, ferida, inflamação nos olhos, queimadura e reumatismo.

“Indicada para o coração...”

Cuida desse coração lindo aí em Angola, que eu e Marculino cuidaremos desses dois corações que sentem sua falta...

Iremos nos reencontrar em breve!

Muitos beijos,

Cris

Às vezes acho que as portas de entrada para o amor são os olhos...
Mas quando admiro “O Beijo”, tenho dúvidas...
Acho que são os lábios...
E Klimt sabia disso...
Por isso...
Por isso...
Por isso...
Fico embriagada com esse beijo,
E cada vez mais me apaixono com os olhos...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008


Damien Rice

Eu não tenho tanto tempo
Parece-me que estou muito doente...
Estou fadada à dor,
Prevejo meu fim,
Estou doente!
Uma parte de mim está muita ferida...
Sangrando como nunca vi,
Tanto sangue...
Só em filme.
Dói em mim,
Dói aqui...
Onde dá´se o nome de coração!


O Natal passou e eu esqueci de te escrever um daqueles poemas que havia prometido escrever até mesmo depois de já tê-lo esquecido,
Apagado de uma vez seu rosto da minha memória...
Desde aquele natal que nos reconhecemos, os natais já não são mais os mesmos...
Tanta coisa mudou de lá para cá...
Mudamos os pares, mudou-se o mundo...
E nos mudamos também!
Dizem que é porque tudo passa!
E nem vou falar aquela piada besta que uva passa...
Mas depois de nosso último diálogo resolvi cumprir a promessa e escrever um texto de natal atrasado, só por você dizer que ainda me ama,
Só porque já não acredito mais nisso como antes.
Mas por saber que realmente não esqueceremos nunca um do outro,
E que estamos juntos ainda que distantes,
Feito flor e caule... que mesmo cortados... se sentem.
Desculpa a falta de inspiração, estou tentando e tentar é o bastante!
Se pudesse voltar no tempo retornaria até aquele natal e reviveria nosso encontro, o apartamento sem cortinas, sem água, seu cheiro, nosso cheiro...
Mas não tenho como fazer isso,
A máquina transportadora está com defeito...
Sobrou apenas a promessa,
Você sempre presente ainda que diferente,
Ainda que suplicando amor...
Estou ficando velha,
Mais um natal, menos sentimental,
Mais lúcido!
Não menos poético que as canções que tocavam no rádio
Naquele nosso natal,
Passado!


Hoje rezei para Nossa Senhora dos loucos
Pedi-lhe que dê menos juízo a esses homens do planeta terra
Pedi a ela que por favor eles parem de fabricar enlatados,
Sentimentos plastificados,
Amores descartáveis,
Emoções a preços de bananas.
Supliquei a Nossa Senhora dos Desequilibrados,
Que olhe por essas criaturas que podem tudo...
Que lhes dê um pouco de vontade...
De fazer mais pelos que menos tem,
De olhar para as crianças indefesas,
Que eles enxerguem os animais, as plantas, arvores...
Nos permitam respirar melhor!
Viver melhor!
Quebrem os televisores,
Leiam os livros!
Por favor minha Senhorinha,
Olhe por nós os pobres loucos!
Que sonhamos com o amor,
Que acreditamos nas palavras,
Que sentimos aromas,
Que nos alegramos (e também nos entristecemos)com o pôr-do-sol!
Olhai por nós...
Porque sou tão pequena...

domingo, 13 de janeiro de 2008

Perda de tempo (s)

- Pronto não tenho mais nada para fazer da minha vida, já tomei meu remédio!

Sofia passa pela sala e diz essa frase com seu olhar deprimido. Interessante que quando descobrimos o que é prioridade num dado momento de nossas vidas ficamos deprimidos. Sofia anda de um lado para o outro... minha prioridade nesse momento é não pensar em nada mais que possa me colocar para baixo. Mas esta decisão foi há cinco dias atrás, percebi que se não tomarmos cuidado, as coisas, ou melhor as pessoas terminam nos deprimindo! Também, deveria parar de pensar nos seres humanos e suas atitudes... mas eu não consigo, não consigo parar de refletir, de analisar as situações, de perceber o que somos capazes de fazer com o nosso semelhante. Devo estar em crise com a humanidade. Mas não suporto ver as pessoas colocando suas culpas umas nas outras, mentindo, se esquivando, sumindo... Quem foi que disse que você era isso tudo mesmo? Deve ter sido sua mãe, que eu nem cheguei a conhecer! Meu Deus o que as mães fazem com seus filhos... elas são felizes? Porra nenhuma, elas muitas vezes são tão absurdamente incompetente na criação dos seus filhos (principalmente os menininhos indefesos delas), que terminam transformando-os em monstros machistas! Eu estou indignada! A ponto de usar um travessão para repetir a frase acima.

- Quem foi que disse que você era isso tudo mesmo?

É uma pena que você não olhe para os lados, que você não descubra que existe ao seu redor um mundo em mutação, uma transformação que ocorre independentemente do nosso estado de espírito, do nosso modo de pensar a vida... mas entendo que mamãe te ensinou que o universo gira ao redor do seu umbigo... E Você (ato falho esse v maiúsculo) acreditou! É uma pena, é uma pena! Mas os leões irão te mostrar o contrario, mamãe poderia ter lhe poupado... mas ela preferiu assim, né?

Vou voltar para minha leitura, na verdade nada vale a pena, nem mesmo esse discurso rancoroso, de mulher abandonada!

“Olhos nos olhos, quero ver o que você faz,
ao sentir que sem você eu passo bem demais...”

Você tem muita sorte, amo Chico, mas essa letra não combina comigo... Logo, passou, passou... dá um abraço em mamãe, diz que mesmo sem conhecê-la eu mando um abraço, fala que ela está de parabéns pela casca que ela foi capaz de produzir... Até Michelangelo bateria palmas para ela! Verdadeiro Apolo! Bem, se fosse em outros tempos, eu até me sentiria bem, iria dizer que cascas bonitas elevam nossa auto estima, mas na verdade, estou numa fase de procurar a essência...

Sofia dormiu, certa ela! Já tomou seu remedinho e o mundo voltou a girar no sentido do relógio... voltarei para minha leitura, afinal de contas, eu tenho um monte de coisas para fazer da minha vida, além de ficar aqui falando de você...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

“Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam”
(A Hora da Estrela, Clarice Linspector)

Sabe,
Eu acredito no amor,
Mesmo que depois, depois em determinadas situações ele se transforme em algo, que é meio ódio, meio medo, solidão e dor...
Também acredito nas palavras de amor,
Ainda que muitas vezes elas sejam arquivadas em armários, rasgadas, queimadas ou até mesmo esquecidas...
Acredito nos olhares apaixonados, ainda que aconteçam em frações de segundos,
No grito do gozo,
No cheiro da pele (tão particular),
Nos beijos ardentes,
No toque escondido, nos escancarados e nos tímidos...
Eu acredito que algo muito maravilhoso acontece em nossas almas quando amamos,
Eu acredito no amor.
Eu acredito no amor.
E se acredito...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Eu peguei sua sombrinha vermelha emprestada.
Você estava dormindo e eu peguei ela...
É um bom motivo para voltar
Foi uma necessidade também!
Estou indo trabalhar, não posso me molhar.
É um caso de extrema necessidade!
Eu preciso muito voltar!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Minhas...?

È muito estranho.
É estranho...
Mas parece que tem momentos em que as palavras nos fogem, somem os textos...
E os textos dos outros nos contaminam,
Nos dominam,
Penetram em nossa alma...
Nos perseguem...
São nossos
Sem serem
Minhas palavras nas bocas dos outros...
Ropiando,
Se repetindo
Rondando-me
As palavras
Que outros disseram...
E que são minhas...

Para T...

eu achava que estava acordada
mas me parece que eu só acordei ontem
quando tudo pareceu fazer sentido...
eu não sabia que poderia ser tão simples e terno
e mesmo parecendo tão rápido, tão eterno!
não sei se cai do penhasco ou se acordei para o amor...
mas você nem está aqui e está...
porque eu acordei
porque eu dormia
as dunas que caminhavam dentro do nosso filme
velam nossa solidão
e mesmo que tudo pareça tão efêmero
a lua estava lá, com as dunas, praia, suspiro, vodca, vinho e água...
e ainda que tudo seja tão breve, ou que aparente ser
sabemos que não é...
porque eu ainda te “devo” um milhão de beijos por você saber tocar música clássica...
e nem dei metade...
eu ainda nem te fiz saborear uma pêra...
e ver Cinema Paradiso,
e segurar minhas mãos quando eu tiver medo,
e me colocar para dormir
Chamar-me de novo de chorona...
Beijar-me,
beijar,
beijar,
e tocar para eu dormir...
Porque?

Eu preferiria uma vez sentir o cheiro dos cabelos dele...
Dar um beijo em sua boca...
Tocar uma vez sua mão...
A passar uma eternidade sem fazê-lo.
Uma vez!

SSA 01.01.08