sábado, 18 de outubro de 2008

Enquanto seu lobo não vem...


Hoje pensei muitas coisas... relembrei outras e decididamente procurei em vão encontrar-me comigo mesma! Senti uma vontade imensa de retornar ao passado, criança, adolescente, quase mulher... mas aos poucos fui perdendo a coragem, tive uma infância um tanto quanto depressiva, para não enlouquecer assim que aprendi a ler afoguei-me nos livros e através de Vinícius, Florbela, Drummond, Cecília... fui salva daquela assustadora melancolia que acompanha a vida das crianças...

Como adolescente, nem pensar!!! Achava a adolescência um saco... os papos dos colegas, a descoberta do corpo (que talvez em mim tenha sido precoce). As espinhas (dos outros, em mim elas não deram o ar da graça). A morte sempre rondando os amigos, meus animais, familiares e vizinhos... mas aí o teatro se fez meu amante, seduziu-me, enfeitiçou-me, possui-me totalmente. Eu respirava teatro, bebia teatro, comia, fazia sexo, gozava, gozava muito teatro... só que ainda era verde e seria necessário que o tempo passasse para que eu descobrisse os métodos, as artimanhas, a farsa, o sorriso e a tristeza... era preciso que eu me tornasse mulher para que em mim existisse os sentimentos necessários que uma atriz deve conter em seu peito para interpretar com honestidade...

“Quase mulher”: casada... atriz... separada.... reaprendendo a ser só... a só ser... apaixonada de novo... saudade... separação... transtornada... cantora... de novo apaixonada!

Recordo-me que um dia escutei de um rapaz que eu não poderia verdadeiramente nunca ser feliz no amor... Também me perguntei se aquilo era verdade. Para ele eu tinha uma espécie de liberdade e tristeza congênita que atinge a determinado tipo de mulheres... disse que sofria também em me dizer aquilo mas que eu inconscientemente vivia numa redoma de vidro frágil como um cristal que não podia ser quebrado pois era herança dos meus antepassados... herdara de minha mãe, que herdara de minha avó a tal melancolia familiar! E que toda vez que um homem tentava quebrar a redoma eu me transformava em erva daninha...

Eu acreditei por um tempo nessa estória, mas confesso que hoje quando vago na noite, tomando cerveja e algumas vezes até dando uns traguinhos de cigarro, percebo que minha redoma não é de maldade e sim de defesa... eu não sou e nunca fui tão mal quanto tentam me fazer acreditar... não tenho culpa se as vezes dou mais e recebo menos e quando recebo menos me anulo... não tenho culpa se por vezes machuco por falar a verdade e acredito que talvez quem sabe um dia um príncipe consiga retirar a retoma fina de vidro...

Não tenho tanta culpa de coisa alguma, na verdade não quero voltar a lugar algum... apenas viver com ou sem redoma de vidro enquanto não recebo o beijo do meu pequeno principe.

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