segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Aos Pequenos...


O quinto planeta era muito curioso. Era o menor de todos. Mal dava para um lampião e o acendedor de lampiões.... o principezinho não podia atinar para que pudessem servir, no céu, num planeta sem casa e sem gente, um lampião e o acendedor de lampiões. No entanto, disse consigo mesmo:

“talvez esse homem seja mesmo absurdo. No entanto, é menos absurdo que é o rei, que o vaidoso, que o homem de negócios, que o beberrão. Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apaga, porem, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E é útil, porque é bonita”.

Certa vez Fernando Pessoa disse “ O abismo é o muro que tenho, ser eu não ter um tamanho” Não estou esses dia com inspiração.. por causa do nariz (aquele vermelho que falei na estória anterior). A verdade é que depois que Ele partiu... tenho percebido que algo se fortalece em mim, porque antes eu ficava embriagada de andar sozinha na madrugada... agora vejo seu rosto na lua, na rua, na terra fofa, nas plantas que cato embriagada de cerveja...

Não tenho muito a dizer,
Se ele tem uma máquina que transforma em estrela e em flor as belezas... é porque ele é um artista e a mim que sou uma flor não tão iluminada quanto meus pensamentos... fico a pensar em rosas, em capins e sempre vivas.
Porque uma vez fui girassol e tinha a capacidade de ver o rosto dele no meio de mim...

E me fortaleço e fico ainda mais precisa,
Porque cada falta, cada ausência dele, me faz ser forte lembrando que tudo que passou, passará...
Sou mesmo forte e fraca,
Fraca porque se me arrancam de mim. Fui,
Mas sou forte quando possuo repouso em um jardim florido, com água e sol e chuva...
E às vezes um Pequeno me visita e faz de mim uma fortaleza de cores...
Uma profusão de palavras.
Viro passarinho,
Nado na areia, mergulho na água e volto para meu espaço,

Confesso: eu não entendo o acendedor...
Porque apenas consigo amar o principezinho..


Quando eu era pequena eu sabia voar.
Não sei ao certo em que momento eu desaprendi,
A voar!
Ainda adolescente eu acreditava em amores, em paixões fulminantes,
Cresci e ainda levava comigo a capacidade de olhar nos olhos, de detectar mentiras...
Eu às vezes esqueço que eu cresci e sofro porque quero muito voltar a voar,
E quero também olhar nos olhos...
Ainda ontem, hoje! Ficou impregnado em meu corpo um cheiro seu,
Eu não queria te dizer que quando meu nariz fica vermelho é porque eu queria voar...
E como não consigo,
Fica na garganta um aperto,
Por não saber mais voar e por querer chorar!
Como não posso chorar! (na sua frente).
Eu só queria te pedir, que me deixe ir...
Talvez um dia eu reaprenda a voar,
Mas se você ficar me segurando eu nunca vou saber de verdade se (re) aprendi, ou não!
Eu deixo você ir...
Eu suporto essa dor...
E depois que você foi embora
Meu nariz não ficou tão vermelho,
Porque eu pude chorar!
Eu sei me cuidar,
Bebo leite,
Faço amor,
Colho flores,
Bebo cerveja escondido,
E sempre admiro o pôr-do-sol
E quando durmo,
Alço vôo bem alto e fico observando a cidade lá de cima,
É tão bela...

Adeus!
Quando chegar a noite,
Eu te visito em sonhos...
Te adoro!

(Ah, com o nariz vermelho eu fico menos inspirada!)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sobre corpo e flor ou corpos e flores



Me ponho a pensar no corpo,
Ou seriam nos corpos?
Apenas me ponho a pensar,
Pensar que poderia ser uma flor,
E talvez não pensar em nada,
Porque acredito eu, que quando se está em harmonia com o universo
Acho que não devemos pensar em nada,
Apenas sermos,
Apenas existirmos.
Mas agora, nesse exato momento, no qual observo uma fotografia
De um corpo,
Sem roupa...
Penso na flor,
Que não pensa,
Que não tira a roupa
E nem a veste,
E assim sendo é sempre bela, sempre-viva!
Corpo para o dicionário é qualquer porção limitada de matéria,
Os definidores das coisas são seres estranhos...
Alguns também se referem ao corpo como cadáveres
“ta lá o corpo estendido no chão”
Num outro dicionário encontrei: busto!
Este se ajeita direitinho com a fotografia
Uns diriam: tampa e panela, encaixe perfeito!
Corpo pode ser tantas coisas, a parte de tantas coisas
Corpo disso... corpo daquilo...
Mas não é flor...
Eu tenho escrito tantas coisas,
Querendo falar sobre tantas coisas,
Que me alegram,
Que me entristecem...
Porque estou viva!
E viver é também isso...
Ser um corpo alegre e também um corpo triste,
Despertar com meu corpo às vezes apático e com ele admirar 120 pores-de-sol quando sentir vontade, ou saudade, ou...
Vocês entendem o que quero dizer, né?
Eu sou um corpo igual há um milhão de outros corpos...
Exatamente igual,
E por causa disso acho que o Pequeno Príncipe foi embora,
Porque eu não sou diferente dos outros corpos.
Pelo menos é o que ele acha.
Que se os outros corpos, que são uma porção de matéria e que podem um dia virar cadáveres, despertam para o mundo sendo e sentindo-se iguais aos outros, não se percebem flores!
E podem ser corpos tão descartáveis quanto as poses e efeitos que os mesmos podem imprimir!
É, só me resta esperar!
Que o pequeno Príncipe encontre tantas flores iguais a mim, mais tantas, tantas e tantas... que possa perceber que meu corpo não é igual a um milhão de outros corpos...

(foto: Almir Jr.)

Além do mar



Havia um mar ali estendido em minha frente
Um lençol azul, embalado num vento com cheiro de terra distante
Eu sempre ficava daquele jeito,
Sempre,
Nos mesmos horários
Repetindo-me... como um relógio de parede,
Procurando olhares,
Catando os segundos, que se repetiam...
Sentindo cheiros que já não mais sabia se eram verdadeiros ou imaginários,
Porque se eu já me repetia há tanto tempo,
Porque os cheiros seriam reais,
Subia-me vez por outra um desejo de correr aos teus braços,
Buscando afagar-me em seu peito,
Suas mãos que já me possuíam sem pudores...
Cheiro de lençóis molhados, suados, de pele
De um pecado cúmplice, ardente...
Eu não sabia explicar
Como era que chegava até mim,
Vinham sorrateiros, enquanto ficava parado,
Apenas olhando além do mar...
Vou me repetir:
“não se deve tocar em nada com o pensamento, pois disseca o coração”
(foto: Almir Jr.)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Para Manoel e Marcus e Cris





Meus amores:
Sempre-vivas são plantinhas que dão no serrado de cores variadas que depois que atingem seu “estagio adulto” vivem até 50 anos... sempre do mesmo jeito, preservando suas cores e beleza!
Recordo-me daquela noite mágica “meio tontinha” colhendo capim com um desejo incomensurável que fossem sempre-vivas...
Aquele gesto, meu já tão amado Manoel! Era para que o dia seguinte não acordasse, porque tão logo ele despertasse, eu e marquinhos ficaríamos com um aperto em nossos corações, uma saudade desses seus, tão verdinhos e sinceros olhos...
Você estava errado! Quando colhi os tais capins, na verdade não era para que eu ficasse sempre viva... para que você não partisse para longe, nos deixando essas lembranças tão belas e essa saudade no peito...

Mas, sei que não devemos ficar tão tristes, as verdadeiras sempre vivas... nos deixam um consolo... temos uma vida inteira pela frente, se o acaso nos uniu ele deve ter em mente um fim para essa estória!

Fui buscar na internet uma foto das sempre-vivas verdadeiras para te presentear... e encontrei este texto:

Seguindo à risca o teor expresso pelo seu nome, essa planta traz de volta, a vida para quem se esqueceu de que os problemas não se resolvem da noite para o dia e se machucam ao buscar respostas rápidas, quando é preciso ter paciência. Pessoas assim acabam se esgotando com circunstâncias adversas, perdendo a vontade de viver. A Sempre-viva revitaliza e regenera esse tipo de desgaste.

A Sempre-viva é uma planta medicinal com propriedade adstringente indicada para o coração, diarréia, erisipela, ferida, inflamação nos olhos, queimadura e reumatismo.

“Indicada para o coração...”

Cuida desse coração lindo aí em Angola, que eu e Marculino cuidaremos desses dois corações que sentem sua falta...

Iremos nos reencontrar em breve!

Muitos beijos,

Cris

Às vezes acho que as portas de entrada para o amor são os olhos...
Mas quando admiro “O Beijo”, tenho dúvidas...
Acho que são os lábios...
E Klimt sabia disso...
Por isso...
Por isso...
Por isso...
Fico embriagada com esse beijo,
E cada vez mais me apaixono com os olhos...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008


Damien Rice

Eu não tenho tanto tempo
Parece-me que estou muito doente...
Estou fadada à dor,
Prevejo meu fim,
Estou doente!
Uma parte de mim está muita ferida...
Sangrando como nunca vi,
Tanto sangue...
Só em filme.
Dói em mim,
Dói aqui...
Onde dá´se o nome de coração!


O Natal passou e eu esqueci de te escrever um daqueles poemas que havia prometido escrever até mesmo depois de já tê-lo esquecido,
Apagado de uma vez seu rosto da minha memória...
Desde aquele natal que nos reconhecemos, os natais já não são mais os mesmos...
Tanta coisa mudou de lá para cá...
Mudamos os pares, mudou-se o mundo...
E nos mudamos também!
Dizem que é porque tudo passa!
E nem vou falar aquela piada besta que uva passa...
Mas depois de nosso último diálogo resolvi cumprir a promessa e escrever um texto de natal atrasado, só por você dizer que ainda me ama,
Só porque já não acredito mais nisso como antes.
Mas por saber que realmente não esqueceremos nunca um do outro,
E que estamos juntos ainda que distantes,
Feito flor e caule... que mesmo cortados... se sentem.
Desculpa a falta de inspiração, estou tentando e tentar é o bastante!
Se pudesse voltar no tempo retornaria até aquele natal e reviveria nosso encontro, o apartamento sem cortinas, sem água, seu cheiro, nosso cheiro...
Mas não tenho como fazer isso,
A máquina transportadora está com defeito...
Sobrou apenas a promessa,
Você sempre presente ainda que diferente,
Ainda que suplicando amor...
Estou ficando velha,
Mais um natal, menos sentimental,
Mais lúcido!
Não menos poético que as canções que tocavam no rádio
Naquele nosso natal,
Passado!


Hoje rezei para Nossa Senhora dos loucos
Pedi-lhe que dê menos juízo a esses homens do planeta terra
Pedi a ela que por favor eles parem de fabricar enlatados,
Sentimentos plastificados,
Amores descartáveis,
Emoções a preços de bananas.
Supliquei a Nossa Senhora dos Desequilibrados,
Que olhe por essas criaturas que podem tudo...
Que lhes dê um pouco de vontade...
De fazer mais pelos que menos tem,
De olhar para as crianças indefesas,
Que eles enxerguem os animais, as plantas, arvores...
Nos permitam respirar melhor!
Viver melhor!
Quebrem os televisores,
Leiam os livros!
Por favor minha Senhorinha,
Olhe por nós os pobres loucos!
Que sonhamos com o amor,
Que acreditamos nas palavras,
Que sentimos aromas,
Que nos alegramos (e também nos entristecemos)com o pôr-do-sol!
Olhai por nós...
Porque sou tão pequena...

domingo, 13 de janeiro de 2008

Perda de tempo (s)

- Pronto não tenho mais nada para fazer da minha vida, já tomei meu remédio!

Sofia passa pela sala e diz essa frase com seu olhar deprimido. Interessante que quando descobrimos o que é prioridade num dado momento de nossas vidas ficamos deprimidos. Sofia anda de um lado para o outro... minha prioridade nesse momento é não pensar em nada mais que possa me colocar para baixo. Mas esta decisão foi há cinco dias atrás, percebi que se não tomarmos cuidado, as coisas, ou melhor as pessoas terminam nos deprimindo! Também, deveria parar de pensar nos seres humanos e suas atitudes... mas eu não consigo, não consigo parar de refletir, de analisar as situações, de perceber o que somos capazes de fazer com o nosso semelhante. Devo estar em crise com a humanidade. Mas não suporto ver as pessoas colocando suas culpas umas nas outras, mentindo, se esquivando, sumindo... Quem foi que disse que você era isso tudo mesmo? Deve ter sido sua mãe, que eu nem cheguei a conhecer! Meu Deus o que as mães fazem com seus filhos... elas são felizes? Porra nenhuma, elas muitas vezes são tão absurdamente incompetente na criação dos seus filhos (principalmente os menininhos indefesos delas), que terminam transformando-os em monstros machistas! Eu estou indignada! A ponto de usar um travessão para repetir a frase acima.

- Quem foi que disse que você era isso tudo mesmo?

É uma pena que você não olhe para os lados, que você não descubra que existe ao seu redor um mundo em mutação, uma transformação que ocorre independentemente do nosso estado de espírito, do nosso modo de pensar a vida... mas entendo que mamãe te ensinou que o universo gira ao redor do seu umbigo... E Você (ato falho esse v maiúsculo) acreditou! É uma pena, é uma pena! Mas os leões irão te mostrar o contrario, mamãe poderia ter lhe poupado... mas ela preferiu assim, né?

Vou voltar para minha leitura, na verdade nada vale a pena, nem mesmo esse discurso rancoroso, de mulher abandonada!

“Olhos nos olhos, quero ver o que você faz,
ao sentir que sem você eu passo bem demais...”

Você tem muita sorte, amo Chico, mas essa letra não combina comigo... Logo, passou, passou... dá um abraço em mamãe, diz que mesmo sem conhecê-la eu mando um abraço, fala que ela está de parabéns pela casca que ela foi capaz de produzir... Até Michelangelo bateria palmas para ela! Verdadeiro Apolo! Bem, se fosse em outros tempos, eu até me sentiria bem, iria dizer que cascas bonitas elevam nossa auto estima, mas na verdade, estou numa fase de procurar a essência...

Sofia dormiu, certa ela! Já tomou seu remedinho e o mundo voltou a girar no sentido do relógio... voltarei para minha leitura, afinal de contas, eu tenho um monte de coisas para fazer da minha vida, além de ficar aqui falando de você...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

“Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam”
(A Hora da Estrela, Clarice Linspector)

Sabe,
Eu acredito no amor,
Mesmo que depois, depois em determinadas situações ele se transforme em algo, que é meio ódio, meio medo, solidão e dor...
Também acredito nas palavras de amor,
Ainda que muitas vezes elas sejam arquivadas em armários, rasgadas, queimadas ou até mesmo esquecidas...
Acredito nos olhares apaixonados, ainda que aconteçam em frações de segundos,
No grito do gozo,
No cheiro da pele (tão particular),
Nos beijos ardentes,
No toque escondido, nos escancarados e nos tímidos...
Eu acredito que algo muito maravilhoso acontece em nossas almas quando amamos,
Eu acredito no amor.
Eu acredito no amor.
E se acredito...

sábado, 5 de janeiro de 2008

Eu peguei sua sombrinha vermelha emprestada.
Você estava dormindo e eu peguei ela...
É um bom motivo para voltar
Foi uma necessidade também!
Estou indo trabalhar, não posso me molhar.
É um caso de extrema necessidade!
Eu preciso muito voltar!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Minhas...?

È muito estranho.
É estranho...
Mas parece que tem momentos em que as palavras nos fogem, somem os textos...
E os textos dos outros nos contaminam,
Nos dominam,
Penetram em nossa alma...
Nos perseguem...
São nossos
Sem serem
Minhas palavras nas bocas dos outros...
Ropiando,
Se repetindo
Rondando-me
As palavras
Que outros disseram...
E que são minhas...

Para T...

eu achava que estava acordada
mas me parece que eu só acordei ontem
quando tudo pareceu fazer sentido...
eu não sabia que poderia ser tão simples e terno
e mesmo parecendo tão rápido, tão eterno!
não sei se cai do penhasco ou se acordei para o amor...
mas você nem está aqui e está...
porque eu acordei
porque eu dormia
as dunas que caminhavam dentro do nosso filme
velam nossa solidão
e mesmo que tudo pareça tão efêmero
a lua estava lá, com as dunas, praia, suspiro, vodca, vinho e água...
e ainda que tudo seja tão breve, ou que aparente ser
sabemos que não é...
porque eu ainda te “devo” um milhão de beijos por você saber tocar música clássica...
e nem dei metade...
eu ainda nem te fiz saborear uma pêra...
e ver Cinema Paradiso,
e segurar minhas mãos quando eu tiver medo,
e me colocar para dormir
Chamar-me de novo de chorona...
Beijar-me,
beijar,
beijar,
e tocar para eu dormir...
Porque?

Eu preferiria uma vez sentir o cheiro dos cabelos dele...
Dar um beijo em sua boca...
Tocar uma vez sua mão...
A passar uma eternidade sem fazê-lo.
Uma vez!

SSA 01.01.08