terça-feira, 25 de novembro de 2008

Salva-vidas?

Chego até a popa deste veleiro,
Um vento refrescante atiça os meus pêlos,
Adoro esse vento dos dias chuvosos.
Observando o mundo da popa do veleiro imaginário,
Percebo que a cada instante que segue, me torno mais inteira, e ao mesmo tempo mais contraditória.
Antes, quando ainda tinha meus braços entrelaçados com as necessidades mundanas,
Sofria de coisas, agora imperceptíveis.
Não me cabe mais correr desesperada,
Afogar-me na tentativa de alcançar a terra...
Vou navegando...
Curtindo o tempo das coisas,
Remando conforme a maré.
Às vezes chego a pensar que isso pode ser coisa da velhice,
Mas ainda sou uma pequena.
Eu queria não ter este salva-vidas amarrado em mim,
Eu queria não temer teus braços,
E esperá-lo com os meus abertos.
O que se pode construir dentro de quartos?
O amor pode nascer do cansaço das noites de sexo?
O que realmente possuem os amantes além de desejos, álcool, cigarros...?
Por que só me resta no final das contas o príncipe encantado, o mesmo que me cercava quando era pequena?
Por que não assumir tudo, jogar fora o salva-vidas e encarar você como o rei torto do meu palácio de dúvidas?

Ah, meu bem... perdão por me permitir sobreviver neste labirinto de incertezas,
Por não possuir mais a coragem de outrora,
Por ter me transformado nesta mulher que tem medo de cair
E que sempre se levanta após cada queda...
Eu só queria mesmo era ter a coragem de lhe pedir,
Que numa dessas noites de paixão
Você, anjo torto e insano (e és tão belo assim...)
Com muito cuidado e jeitinho,
Desatasse esse colete que está amarrado em minhas costas,
Depois me abraçasse
Beijasse minha face,
E me colocasse para dormir segurando meus dedos.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Eu e Vincent Van Gogh





- Você sempre quer muito...

Reflito...
Busco palavras para começar este texto e não as encontro. Como é que com tantas palavras eu não encontro nenhuma?

Estranho... estranho. Amo a dubiedade das palavras. Talvez seja isso! Quando somos estranhos na vida de uma pessoa tudo que ela diz, faz, sente deve ser muito... (olha a dubiedade novamente) estranho.

Rememoro...
Sou uma pequena... seis, sete anos de idade. estou encostada na janela da casa de tia Mariá. Sou uma pequena que se sente menor ainda. Durante anos convivi com essa sensação, e busquei artimanhas para não permitir que esse monstro se apoderasse de mim. Sinto-me sozinha, não tenho amigos, não tenho mais minha prima meia irmã... só existem adultos, livros e o tempo como companheiro. Ainda faltam dois meses para as férias acabarem... Se eu ainda tivesse aquela chupeta escondida, se tia Mariá não tivesse jogado as outras fora, se ao menos eu tivesse o colo de minha mãe... Quando eu crescer eu nunca mais vou ficar sem chupeta, vou comprar um pacote bem grande igual aquele que meu pai me deu quando brigou comigo e queria me reconquistar! Quando eu crescer vou ter um monte de amigos, livros, brinquedos novos... vou ter um monte de tudo que quiser ter... quando eu crescer... quando eu crescer vou querer sempre muito!

Eu sei...
Que o muito que hoje eu busco está além das palavras. Que na verdade já foi dito que muito é muito pouco. Que o que ainda tenho muita vontade de fazer é depositar muitos barquinhos de papel naquele rio insano que só existia em dias de chuva na porta da casa de Mãe... parecia sonho, os barquinhos correndo desenfreados, transformando o asfalto em um mar de barcos...
Que quero escrever muitos textos como fazia no passado, ainda que bobos, ainda que tristes, ainda que sofrendo de mal de amor!
Quero ter muito tempo para admirar o pôr-do-sol!
Muitas horas e muita paciência para brincar com meus sobrinhos, especialmente brincar de bombeiro com Guilherme.
Quero muito tempo para amar... fazer amor, e porque não? Beijar muito.
Quero muito não esquecer nunca o cheiro de minha florzinha, os olhos azuis dela, a pele, a luz, o coração! Quero realmente muito isso.
Quero ter bom senso, educação, um jardim com muitos girassóis, gerânios, margaridas, violetas e a sobrevivente sempre muito perto de mim, mudando de casa a cada novo ano, sempre bela ainda que eu esqueça de molhá-la. Mas sempre ali, firme e forte!

Quero muitas coisas sempre, você está certo!
Mas quero mais ainda ter a certeza que não quero abrir mão nunca das, dos muitos, muitas... que acredito ser imprescindível para ser feliz neste mundo de muitas coisas inúteis...

(Telas de Van Gogh: Jardim Florido, La Siesta, Café Nocturno da Praça Lamartine de Arlés,

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


Disseram-me que tenho estrelas tatuadas no corpo,
Um passarinho no tornozelo,
Hálito com aroma de pétalas de rosas.
Uma vez também me falaram que meu sexo rosa
Contrastando com meus seios rosa, parece mesmo um mar de rosas...
Também me fizeram crer por um tempo, que sou medusa,
Que meus olhos são como jardins ensolarados, mares cristalinos,
Céu em dia nublado, reflexo de alma juvenil, espelhos de uma alma perdida...
Já fui chamada de sereia, uma das que tentou levar Ulisses para o inferno...
Falaram que sou uma flor(zinha),
Também uma niña,
Mulher,
Já me chamaram de casa,
Mentirosa,
Feminina,
Cínica,
Desgraçada...
De arte do capeta,
De obra de Deus,
Filha de Yemanjá e de Iansã.
Ah, Oxum também.
Já disseram que eu sou boa,
E que sou má.
Que ando nas nuvens e que tenho pés ficados ao chão.
Já disseram isto e aquilo de mim...
Já contaram todas as minhas contas.

E eu só me pergunto no final das contas
Quem conta um conto aumenta um ponto?
Vixe Maria mãe de Deus...
Quem é essa mulher então que para piorar tudo ainda inventou de dar vida a uma centena de outras mulheres?

sexta-feira, 14 de novembro de 2008


Eu não sabia que eu sabia que meu coração é amarelo e não vermelho. Que o tempo pode fechar mesmo estando um dia ensolarado. Que o tempo pode melhorar mesmo estando um dia cinzento. Que meus olhos na verdade são grandes e vivos mas não passam de um mangá. Que minhas pernas mesmo curtas me levam a lugares inimagináveis... que possuo assas enormes em minhas costas pequenas. Que sou uma boneca de pano e que meus cabelos encaracolados são costurados e de nylon.

Eu não sabia que eu sabia que meus amores partem ainda permanecendo por toda a vida junto comigo, alguns. Que minha florzinha se foi, mas ficou grudada em mim com uma cola mais forte que super bonder, muito melhor! Cola invisível das boas, elaborada por um anjo e registrada por Deus. Eu sempre soube que meus irmão são maravilhosos ainda que possuam defeitos. Meus sobrinhos são meus filhos também. E que vou sentir todos os dias saudades de minha florzinha, ainda que tenha ela colada em mim...

Eu não sabia que eu sabia que nasci para correr o mundo. Interpretar todos os personagens. Escrever milhões de estórias e textos bobos. Morrer de amor todos os dias e renascer todos os dias por causa do amor... Eu sempre soube que sou filha de uma borboleta e que quero voar por toda Ipanema num entardecer bonito.

Eu sempre soube que eu sabia que o rio que lava minha face é o mesmo rio de uma tarde de janeiro. Eu sei que o Cristo que lá está de braços abertos me acompanha com seu olhar protetor, que a lagoa me enfeitiça e que se não ficar esperta terei meu coraçãozinho de borboleta adocicado por um par de olhos azuis com perfume de bossa nova.

Eu não sabia que sempre soube que sabia...