segunda-feira, 7 de maio de 2012



Salva por  Manoel de Barros

(Só um poeta pode curar outro)


Toda vez que encontro uma parede
ela me entrega às suas lesmas.
Não sei se isso é uma repetição de mim ou das
lesmas.
Não sei se isso é uma repetição das paredes ou
de mim.
Estarei incluído nas lesmas ou nas paredes?
Parece que lesma só é uma divulgação de mim.
Penso que dentro de minha casca
não tem um bicho:
Tem um silêncio feroz.
Estico a timidez da minha lesma até gozar na pedra.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

 
Há tempos não escrevo particularmente para alguém, assim, como uma devoradora do instante, como se o fosse perder a qualquer momento. Há tempos não faço tantas coisas... Mas, agora, com lápis, papel e o pensamento envolto, à ti escrevo, inebriada, às vezes alheia, com olhos sedentos fitados para a página antes neve.


Não penso em objetivos, escrevo apenas pelo prazer de escrever, aliás, desde pequena gosto de cartas, gosto de endereços (agora devo acrescentar a lista também os e-mails), pois descobri cedo o quanto é terno perceber que um alguém constrói frases em minha cabeça... essa percepção tive ainda pequena e me dei conta que de fato o longínquo não existia. E assim sou, sempre que necessito de algo, sinto saudades de alguém, pressinto o mistério da noite, um diálogo... me ponho a escrever, escrevo a toa, escrevo sem nada, um diário é um amigo, contrapeso de solidão.

 Mas não é o caso, agora escrevo-te como num diálogo de um ator só, no qual ele já sabe, ou não precisa de respostas, e segue sem preocupações, sem medos nem receios.

 Já é bem tarde, algumas horas atrás escutei um CD, depois fiquei pensando em você, lembrando do seu jeito  estranho.. é engraçado, e você é tão forte. Ainda agora o som flutuava pelo meu quarto, tão sutil, uma coisinha de nada, mas  eu o antevia escalando o espaço, arrojando-se sobre abismos, intrépido, audaz, tão seguro de si.

 Me vi flutuando num caleidoscópio (amarelo) de sons, sons de todos os pássaros, de mar, de flores, de chuva... quase uma caixinha de música que tive quando criança e que me levaram, não sei bem, um dia sumiu e nunca mais achei. Você me fez recordar a caixinha, me trouxe ela de volta...

 Já é bem tarde, tudo é silêncio, a cidade dos homens está dormindo, os homens também, revejo pela janela e numa fresta da cortina a rua deserta, as casas fechadas e o silêncio total. Acho que é cedo demais para fazer qualquer coisa e prometo então permanecer quieta, com meu desejo de conversar reprimido, e se escrevo também é porque sinto um desejo irreprimível de me comunicar.


Logo, logo te mandarei o escrito, como se fosse uma partitura de palavras composta noturnamente, criada sobre um piano de nuvem,  escrito numa partitura pálida e embalada pelo som de um mar distante, assim, nessa madrugada sorrateira eu escrevo apenas para dizer-lhe que estou feliz por conhecê-lo e que escutar sua voz me traz uma enorme alegria.

Dorme sossegado, temos todo tempo do mundo... a noite ainda é uma criança,


Bom dia, meu sei lá o quê!!!!

quinta-feira, 3 de maio de 2012



Transparência...
 Estamos acessos
Dentro do jogo de espelhos
Que brinca com nossas imagens
Envolvendo, clareando, desenhando
Refletindo...

Que bons ventos o trazem
Guiado por uns dedos,
ou seriam uns versos,
opacos e transparentes?
Yemanjá,
Que mares deseja que eu naufrague,
E que contas me trouxe para enfeitar a pele?
Eu até que nadaria, se não tivesse tanto medo...

Mas me sobra uma coragem de gigante
Que me faz certa de flutuar,
E ainda que eu desça ao fundo
Não existe morte.
Porque a dona das águas
Que mora no verde dos olhos,
Me pede que eu tenha a coragem,
E que mergulhe, perdida
Porque lá adiante, ela me salva,
Embalada pelas ondas, vestida de algas
Refeita do amor de mãe
E me fazendo estrela das transparências,
Menina dos Olhos d’água.

quarta-feira, 2 de maio de 2012


Depois da Madrugada...

Já era bem tarde
E chovia atrás dos verdes que de tão escuros já não eram mais verdes
Eram cinzas...

E foi que de repente,
Ouvi um barulho de passos devagar, um rumor de cascatas que me atraiu a atenção.
Mas o tempo ainda permanecia imóvel,
Porque se fazia escuridão dentro de um peito perdido, que mais parecia um cemitério onde os fantasmas eram os atores principais.

Mas era tanta tristeza nos olhos da menina,
Que até perdi a conta dos choros que foram abafados com cobertores de lã,
E dos gritos emitidos numa tarde de tenebrosa dor.

Mas o tempo hoje se esvai numa calmaria só,
Tudo ficou um pouco velho... velhos...
Porque a vida passa no burburinho da noite
E nesse tempo infinito o sol vai se forrando de amarelo,
Cobrindo os antigos verdes-cinzas
E o coração despedaçado
Constitui-se novamente num vermelhão vívido
Revivido numa nova paixão.



Entrelinhas

Queria me vestir de brisa,
Vagar no tempo
Revelar mistérios
Decifrar-me,
Não ser tão frágil (nem fingir não ser)

Invoco você, e seu corpo,
Meu menino,
Porque durante muito tempo procurei minhas pétalas,
Minhas rosas, e meu jardim de ilusões.
Escondendo sentimentos,
Me esquivando detrás dos caules firmes,
Eu não era firme, só os caules no qual me apoiava.

E hoje, você passeia nos meus sonhos,
Brinca com minhas flores,
Amarelas.
Vaga solitário
E embriagado em música nas noites sem ensaio,
De improviso, o amor nascendo e crescendo tão depressa que mal cabe dentro do quarto,  de gemidos abafados...

Talvez parta depressa,
E esqueça meu rosto, e eu o seu cheiro
Mas, se existe música, fica,
Sua solidão é minha solidão também,
Guiando meus dedos tortos,
Levando-me aos labirintos.

Sei a dor da ausência,
Da marca deixada no peito esquerdo,
Fundido em brasa, queimando,
Sei o poder do som perpetuado na memória,
E do silêncio em forma de pausa,
Que canta nas entrelinhas,
Um beijo sentido,
Que falta.
 
Também sinto meu peito tremer quanto te avisto de minha janela, Quando olho seu jeito de menino, que mesmo com cem anos ainda o terá, porque ser menino é uma qualidade dos seres sensíveis, amáveis e sinceros. Procuro não pensar no pára-quedas, tenho medo que ele falhe e o naufrágio seja inevitável... Por isso não pensarei mais nele. Pensarei num bosque com margaridas na janela, e um mar refletindo nosso amor suavizado pela brisa, sem equívocos, sem o maldito “sentir-se só”. Sinto-me um jardim de flores semeadas, regadas quando possuídas por seu corpo: seu hálito meu ar seu corpo minha casa sua saliva meu orvalho sua voz minha canção de ninar (que me acalma) suas mãos. Ah suas mãos meu escudo – me protegendo do mundo – segurando-as me sinto protegida. Um pássaro guardado. Sou tua, ainda que não seja tão fácil demonstrar, ainda que sofra com isso, mesmo que o destino o faça diferente. Conheço seus medos e convivo diariamente com os meus. Não é fácil. Mas te amo como uma ursa faminta que acabou de acordar depois de seis (ou mais) meses hibernando, por isto estou tão fraca. Perdão, sou um ursa cabeça dura. Não é por mal, se me calo é só por medo, se falo também é medo. Mas tenho aprendido com você muitas coisas, as vezes temos mesmo que gritar para acordar o outro, porque o tempo de hibernar já acabou. É tempo de amar... Queria te escrever mais, agora falta o tempo. Mais saiba: Meu corpo precisa do teu, sempre. Meu menino, meu sócio, meu dono, meu amante, minha vida. Também chorei, e com a cabeça enfiada no travesseiro repeti seu nome dentro da madrugada até adormecer.
As vezes pensamos, e não falamos. As vezes falamos e nada dizemos, enrolamos, escondemos. E lá no nosso íntimo fica a sensação de tristeza, de incertezas. Talvez pelo que se deixou de fazer (ou dizer). Debruço-me sobre as janelas, navego em meus pensamentos, pergunto as nuvens de onde vens, se vens... E não encontro resposta, o tempo voa, só ouço ecos lá fora. Um eco febril, contaminado pelo tempo dos homens, que corre circular como o relógio, e que nem o pulso pulsando consegue reverter ou modificá-lo. Me recordo vagamente de um acorde, ou seria um trecho de poema, seu? Inútil procurar o que poderia ter sido eterno, inútil. Por isso vago no meu tempo, estranho, e meu . Talvez quem sabe escreva uma história que contenha fragmentos desses nossos momentos, de suas histórias tristes e da minha melancolia escondida atrás do sorriso, ou das canções que canto. Assim, lembraremos que o tempo passou, correu como um louco procurando desvendar esses enlaces de vidas, essas quimeras, esse mistério que é o amor ou a morte. Essa mulher de braços cruzados, adulta, escondendo os dedos, as mãos... Os sentimentos e roendo as unhas...

sexta-feira, 13 de abril de 2012


Quero ser dona de mim!
Não consigo admitir o fato que não possuo as rédeas de minha própria vida. Estar me deixando ser dominada por você me faz ser algo desconhecido, algo amedrontador. Tudo fica diferente, colorido. Mas eu gostava quando era apenas branco e eu pegava meus lápis de cor e possuía o domínio nas minhas mãos. O processo era outro... Está ficando tudo diferente. Não posso ser convidada pela folha branca a adentrar em sua casa. Não! Eu o convido a adentrar na minha folha branca e te pinto como quero. Do meu jeito, hoje menino, amanhã carrasco, depois meu pai, noutro dia meu amante, ou mesmo o espectador do meu novo romance secreto! Minha nova paixão! Eu devo dizer sim ou não ao papel e ao lápis. EU! Eu! Você me entende? Não me obrigue nunca a escrever. Não permitirei jamais, jamais? Será? Ah, como estou confusa... não quero ser dominada pela inspiração. E aqui estou: frente ao caderno, com meus lápis, obrigada a escrever algo que te retrate... Apaixonada por esse branco todo, vendo seus olhinhos fechados, os cabelos molhados pretos como a noite, sua pele macia, seu sexo dentro de mim... Meus gemidos baixos, pensados ou não, minhas narinas ofegantes, meus lábios entreabertos, os maiores e os menores, meu suor, meus olhos fechados e os seus me observando (é desse jeito sempre, né?). E você adentrando e saindo, lento e rápido, forte e fraco... Completando-me, me encharcando... por vezes até machucando.... E depois caindo sobre mim, cansado!
Não está certo!
Quem manda na folha branca sou eu! Eu decido o que pintar... Mas agora nesta folha branca só existe um rosto...
Eu não sou dona desta obra, não possuo esta autoria. Se você me convida a escrevê-lo. E eu não consigo dizer NÃO! Não sou autora nem pintora de droga nenhuma. Tudo bem. Eu cedo. É seu mesmo...

Este texto se chama “Eu sobre ela” e é de sua autoria. E eu nem gosto tanto.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Grávida


Estou gravida das tuas palavras e tuas análises... Elas penetram em meus ouvidos como se fossem sêmen adentrando entre as minhas pernas, ânus, vagina! Seu sêmen pelas minhas entranhas dilatam meus poros, aquece meu corpo. Sei que sou mais uma. Que espera ansiosa pela semana que se arrasta, como uma preguiça mortal, como uma lesma medonha, gosmenta. Tenho nojo de lesmas e me imagino assim quando estou perto de você! As outras pacientes são lesmas gosmentas a espera do tempo. Dos míseros trinta ou quarenta minutos de penetração verborrágica que você pode como um Deus nos oferecer! Qual Deus do Olimpo você seria? Pan? Apolo? Dioniso? Estou sendo clara? Não! Apenas estou sendo benevolente contigo.
Estou grávida de você, espero paciente... mente uma borboleta em forma de anjo, como aquela que tentei pintar. Mas eu não desejo parir logo, com exceção das que te querem logo, eu tenho uma paciência monstruosa... Paciência de Medusa. Espero minha presa chegar mansamente e olhar nos meus olhos.
Seu líquido, que se apossou dos meus ouvidos gerou a borboleta. Não lembro quando acordamos grávidos e nem quando você começou a me possuir. Eu poderia paciente...mente me entregar numa bandeja à você!
Você diz que encontrou o método, não creio... não sou tão fácil quanto pareço! É um jogo de atriz de quinta categoria. Mas continuo gestante e até me deixo ser ingênua ao seu lado. Mas... ainda assim, continuo esperando... e paciente...mente espero ser possuída novamente por você Doutor! Agora não mais semanalmente e sim quinzenalmente até o dia que você tenha a coragem de olhar-me nos olhos!

Foto: Gustav Klimt - Hope I 1903

quarta-feira, 28 de março de 2012

Separação

Os pingos que caiam sobre mim refletiam minhas lágrimas...
Engraçado como só deu tempo de encontrar mesmo aquela sombrinha vermelha que você comprou num brechó. Você dizia que tomar chuva fazia mal para as minhas cordas vocais...
Você dizia que eu tinha manias muito chatas: não gostar de provar roupas em lojas de shopping... depois elas não cabiam e começa o troca-troca porque não eu também não provava a seguinte e... Você dizia que eu tinha de parar de tomar tanto café... que eu precisava me enfiar menos projetos, parar de tomar remédio (principalmente os de fazer dormir)... comer comida de verdade, parar de escutar aquela voz que ficava me contanto coisas. Tomar omeprazol, escutar o fone de ouvido mais baixo. Deixar os cabelos soltos. Você dizia tantas coisas de mim...

Os pingos encharcam meus sapatos, acho que meus dedos congelaram.. droga de sapatos! Deveriam ser impermeáveis... o coração também... deveria ser impermeável! Se ele fosse eu não sofreria por estar na chuva agora indo embora de nossa casa. Andando pela rua sem saber direito qual rumo tomar, sem saber se ligo para um amigo, se vou para um hotel ou se me jogo de um penhasco.

Porque mesmo que eu estou indo embora? Ah, você já não gosta mais de mim! Quando foi mesmo que isso aconteceu? Acho que foi naquela viagem que eu fiz, naquela temporada grande... foi bem grande e corrida a gente quase não se falou direito. Eu não liguei tanto quanto deveria ter ligado, né? E teve também aquele rapaz que você ficou enciumado.

Aiii... que susto! Meu Deus eu quase fui atropelada... bem que seria bom se eu tivesse sido atropelada, pois aí teria sido morte morrida, pois se eu me jogar do penhasco eu vou estar me suicidando e os espíritas falam coisas terríveis sobre quem tenta se matar!

Acho melhor sentar nesse banco e esperar... O que? Sei lá, eu posso pensar um pouco. Talvez a chuva passe e... sei lá... talvez eu pense melhor sentada nesse banco. O céu está lindo! Eu adoro dias de chuva. Adoro o mês junho...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011





Esperança
Depois de anos retorno ao Blog.
Com uma indagação:
O amor pode crescer dentro de uma redoma?
Embora saiba que além dos sentimentos existem as perdições e más interpretações das palavras. As palavras possuem sentidos variados, amplos, e também errôneos ou equivocados. O amor pode não conseguir nascer com dois seres presos numa redoma, mas a paixão pode explodir sim!
Recordo do Pequeno Príncipe, aquele ser sensível teve que sair pelo mundo fugindo de uma rosa que toda noite dengosa precisava dormir dentro de uma redoma, por cauda do vento, por causa dos bichos, por causa dos seus medos...
Mas o Pequeno também tinha medos: como uma rosa poderia dominar um coração que já havia se acostumado a viver solitário? Apenas reflexivos nos momentos de tristeza, sendo acolhido pelos pores-do-sol?
Não sei o que me abala, meu príncipe está preso na redoma e eu saí pelo mundo para perceber que existem outras rosas (ou seriam lírios?). Tenho visto muita gente... Escutado muitas coisas, andado na areia da praia, mas uma raposa me contou “que foi o tempo que eu perdi com meu lírio que fez meu lírio tão importante...
Eu tenho um coração que está dentro de uma ervilha...
Eu tenho borboletas batendo suas asas dentro do meu estômago...
Eu tenho me esforçado para seguir vivendo e esperando para cumprir seis desejos independentes das expectativas...
Eu tenho uma alma de passarinho...
Eu sou chamada por um lírio que eu adoro de moça-do-encanto-verde...
E quanto ele me chama de moça-do-encanto-verde eu me sinto muito forte e me sinto uma esperança... quando eu era pequena toda vez que uma esperança aparecia eu sabia que uma coisa muito boa ia acontecer... felicidade!!!
Dé: ter esperança é ter felicidade?


Uma Esperança
Clarice Linspector

Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusória, embora mesmo assim nos sustente sempre. Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto.
Houve um grito abafado de um de meus filhos:
- Uma esperança! e na parede, bem em cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem idade para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não poderia ser.
- Ela quase não tem corpo, queixei-me.
- Ela só tem alma, explicou meu filho e, como filhos são uma surpresa para nós, descobri com surpresa que ele falava das duas esperanças.
Ela caminhava devagar sobre os fiapos das longas pernas, por entre os quadros da parede. Três vezes tentou renitente uma saída entre dois quadros, três vezes teve que retroceder caminho. Custava a aprender.
- Ela é burrinha, comentou o menino.
- Sei disso, respondi um pouco trágica.
- Está agora procurando outro caminho, olhe, coitada, como ela hesita.
- Sei, é assim mesmo.
- Parece que esperança não tem olhos, mamãe, é guiada pelas antenas.
- Sei, continuei mais infeliz ainda.
Ali ficamos, não sei quanto tempo olhando. Vigiando-a como se vigiava na Grécia ou em Roma o começo de fogo do lar para que não se apagasse.
- Ela se esqueceu de que pode voar, mamãe, e pensa que só pode andar devagar assim.
Andava mesmo devagar - estaria por acaso ferida? Ah não, senão de um modo ou de outro escorreria sangue, tem sido sempre assim comigo.
Foi então que farejando o mundo que é comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia "a" aranha. Andando pela sua teia invisível, parecia transladar-se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, queríamos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança:
- É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...
- Mas ela vai esmigalhar a esperança! respondeu o menino com ferocidade.
- Preciso falar com a empregada para limpar atrás dos quadros - falei sentindo a frase deslocada e ouvindo o certo cansaço que havia na minha voz. Depois devaneei um pouco de como eu seria sucinta e misteriosa com a empregada: eu lhe diria apenas: você faz o favor de facilitar o caminho da esperança.
O menino, morta a aranha, fez um trocadilho, com o inseto e a nossa esperança. Meu outro filho, que estava vendo televisão, ouviu e riu de prazer. Não havia dúvida: a esperança pousara em casa, alma e corpo.
Mas como é bonito o inseto: mais pousa que vive, é um esqueletinho verde, e tem uma forma tão delicada que isso explica por que eu, que gosto de pegar nas coisas, nunca tentei pegá-la.
Uma vez, aliás, agora é que me lembro, uma esperança bem menor que esta, pousara no meu braço. Não senti nada, de tão leve que era, foi só visualmente que tomei consciência de sua presença. Encabulei com a delicadeza. Eu não mexia o braço e pensei: "e essa agora? que devo fazer?" Em verdade nada fiz. Fiquei extremamente quieta como se uma flor tivesse nascido em mim. Depois não me lembro mais o que aconteceu. E, acho que não aconteceu nada.

terça-feira, 21 de julho de 2009

é porque o tempo passa e ainda assim continuamos sóbrios nestes mecanimos estranhos que são as coisas...
Vou comprar cerveja, levo os cascos, eles caem de mãos pequeninas... reflito com meus neurônios e grito: não dêem risadas não!!! Mãos pequenas não suportam tantas coisas!!! Se sou avessa as controvérsias sigo vivendo dando sorrisos e interpretando personagens que nem bem sei para quê!!!!
Amor me salva desses (des) caminhos????
Sim! Ele diz abraçando-me e reconhecendo a mulher que ele possue.
Amor quem sou eu?????
Ele me diz abrindo os dentes e cantando!!!
"Olha, será que é uma estrela..."""
Plis!!!! Me contento em perseguir as estradas que nem mesma saberia antes da outrora cantar... e ele cumplice da personagem que ele criou cai na balela de cantar Beatriz...
Sigo... Signos... Ódio mortal...
Quem é você meu amigo????
Segue sua estrada, os caminhos que me levam são outros...
Paralelo ao (s) teu (s)...
atravesso um novelo de lã, uma linha negra que quase não tem fim... escrevo minha vida num teclado velho onde tenho que escrever palavra por palavra num contratempo para que não perca os compassos da letra e da cordenação motora... detalhes, apertos, teclas sem querer que me digam algo!
Pausa... vamos ler... OK (o windows live bar não dar supore...) Ok...
Quem nós dá suporte nesse mundo atual?????
Sigo minha escrita bizarra...
Fumo um cigarro de menta... bebo um vinho e tento prosseguir nessa escrita tosca )culpa de um teclato fudido que me acompanha)...
Só preciso disso! Algo que me acompanhe... mesmo um teclado tosco e deprimente... além de vírgulas, cigarros de menta e vinho com coca cola... amigos de uma noite solitária, vozes do andar de cima e um coração repleto de amor e vícios recentes... Se não fechei as aspas e os colchetes é fruto de várias noites sem dormir... E erros gramaticais... E de uma mania de visuar blog!!! Ai masnia de escrever sem pensar e corrigir!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Madrugada

Assim sou... nem me percebo. Apenas sou! Procuro um programa que me conserte, pelo menos que minhas palavras se façam verdadeiras e menos infame, word talvez. Porém sei que nem um programa de computador possuo mais, eles nos perseguem, nos corrói a alma. E ainda assim continuo sobrevivente, com um teclado estragado, com minha alma de criança e minhas borboletas estranhas...

Ah? Sou quem sou... menina das madrugadas, olheiras sendo formadas, canções projetadas, homens perseguidos e me perseguindo como bichos estranhos. Não sei de ti, nem de quem está atrás. Sou quem sou e me faço aranha. Flor. Mulher!

Amanhã mais um dia que se faz claro, ainda que meu maior objetivo fosse dormir até tarde, mas amanheço e quero ser forte, mais do que pareça ser... mesmo não sendo tanto!

Ouço canções, escrevo versos, textos etranhos onde eu mesma me desconheço... e sou e vou seguindo as estradas, as coisas, os movimentos das coisas. Você está aqui compondo versos para mim, eu me pergunto se sou mesmo essa personagem que pode ser tão bem descrita por outro. Eu...

Volto para minhas músicas e suas palavras doces...

Doce?

O que é doce nesses instantes de perdição além das minhas próprias dores internas???

Eu sou meu próprio doce e ainda assim tomei nojo do açúcar!!!! Asco de algo que me remete a uma flor murcha... ressecada pelo tempo e vívida apenas em minha própria mémoria de artista solitária.

Perdão meu bem, perdão!

segunda-feira, 16 de março de 2009

Na sala me vejo nesta penumbra,
Esvaziada como um copo sujo de vinho,
Embriaga por esse vento negro.
Esta fumaça que antes me matava e que agora se faz cada vez mais presente,
E eu que vou seguindo,
Com minha insônia, amiga?
Sufocada pelo cigarro nesta sala rodeada de seres estranhos...
Os pensamentos rondando-me feito diabinhos!
E eu que sigo minha jornada sabendo que cada segundo a mais é um segundo a menos de sono.
E eu com minha recentes olheiras...
Que já não quero mais me perder na devassa tentação de ainda querê-lo.
E você na tentativa alucinada de continuar me cercando...
E eu que já não tenho mais idade de me perder de mim mesma.
Vou fumando, bebendo e seguindo...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Antes mesmo de escrever salvou a folha em branco... estou ficando um pouco desacreditada das coisas. Claro que sei que isso é uma fase curta pois daqui a pouco uma borboleta pousa em minhas costas e lá se foi qualquer teoria absurda que esteja falando ou fazendo sobre algo. O que importa mesmo são as coisas que carrego no meu coração desde pequena, que herdei de minha mãe, que por sua vez herdou de minha avó e assim por diante...

Estou estranha normalmente não costumo refletir sobre o que estou escrevendo... vou seguindo o fluxo, deslizando sobre as palavras, me afogando num mar de idéias que quando menos percebo já estou no momento conclusivo do tal escrito.

Aqui não, estou perdida, diria: no mato sem cachorro! Nem sei para que lado estou indo e muito menos do que quero gritar sobre as folha de papel branca do word.

Penso em estradas compridas, em mãos abandonadas, em vozes esquecidas, num passado remoto, em cadernos de diários guardados em gavetas, num sorriso de menino triste, numa cadela fiel, numa casinha pequenina, em mangueiras no fundo do quintal, em mangas maduras quase que douradas, em anjos pequeninos, em estórias assustadoras, em vozes estranhas... numa mulher forte beijando minha face.

Eu não sei porque escrevo, antes me achava talentosa, hoje uma fraude...

Ana karenina se lançou embaixo do trem por não compreender direito o que se passava em seu coração, na sociedade em geral e também porque somos sim responsáveis por nossos atos e os atos falam por si só!

Queria esquecer esse negócio de escrever, talento é para poucos, deveria me contentar em fazer algo em que fosse melhor aproveitada, fotografar casamentos, bichos, plantas... me trancar num escritório e morrer de tuberculose, vender avon...

Ah! Sei lá o que deveria fazer para doar um pouco dessa necessidade de passar o tempo para não pensar em você... na verdade deveria gritar bem alto pela rua: você é um idiota e gostaria de entender porque os idiotas me irritam tanto.

Bosta!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

domingo, 18 de janeiro de 2009

Vamos fazer de conta que nada passou,
Que lá fora está uma nuvem quase chuvosa,
Que seu coração bate serenamente sobre um travesseiro de plumas ao lado de um corpo branco sem marquinhas...
Vamos fazer de conta que eu sou uma borboleta que pode desaparecer do universo em menos de um dia,
Que você até poderia ser o casulo, mas que também pode ser o firmamento,
Vamos fazer de conta que eu escuto o que seus lábios querem verdadeiramente dizer, sem plágios, sem revolta, sem jogo e nem fúria.
Fazer de conta que eu não sou essa mulher medrosa, com medo da vida, dos homens, de perder novamente quem ama...
Vamos fazer de conta, que contamos tudo um para o outro.

Que aceito ser mãe também... mesmo cambaleante,
Fazer de conta que você escuta o que queres ouvir de mim,
Vamos fazer e contar,
Porque é tudo muito efêmero
E podemos fazer de conta que nada aconteceu,
E um novo começo colorir nossas almas afoitas e aflitas.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Eu poderia mergulhar mais fundo...
Descer ainda que ultrapasse o asfalto mais duro...
Mergulhar dentro de um furacão,
Poderia sem pestanejar encarar seu rosto cínico, e o cinismo é algo que me irrita profundamente... embora saiba que o cinismo é apenas uma máscara para esconder o cachorrinho medroso que vive em você.

Eu caminho pela estrada sem nenhum argumento além da certeza que encontrarei uma outra estrada e mais outra e outra mais além
Eu só caminho...
Eu caminho...
Se não olho para os lados é porque eu mesma sou o caminho.
Sigo assim com meus olhos de ressaca...
Olhos oblíquos de cigana dissimulada!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Enfim, sós!

Quero dançar comigo mesma,
Quero me abraçar tanto até me sufocar de paixão,
Vou encher-me de beijos molhados, dos pés até a cabeça.
Já não preciso de tempo para me conhecer, percebi que quero a mim mesma com um amor tão imenso que seria capaz de embebedar toda a humanidade.

Há tempos que me buscava,
Havia percorrido tantas estradas,
Vagado perdida por tantos corpos estranhos...
E hoje percebo com uma clarividência absurda como estes corpos que tanto me fizeram perder o controle são diferentes de mim. Estranhos a mim...

Eu estava obnubilada,
A verdade é que sempre estive tão perto,
Do lado, ali! Sempre me observando, esperando um aceno que fosse,
E eu cega!
A cegueira não está nos olhos e sim na alma...

Mas agora que me encontrei...
Vou me amar muito,
Passear nas tardes amarelas,
Colher conchinhas no mar,
Fazer amor debaixo dágua,
E engravidar-me de mim mesma...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A menina e o gato


Eu tenho um gato, o nome dele eu não quero revelar, começa com a letra L, tem quatro letras, e é o nome de um outro bicho.
Eu tinha abandonado o meu gato na rua, não costumo fazer isso, mas L. era muito fujão. Só parava em casa quando tinha vontade. Ás vezes porque estava cansado e aí vinha todo cheio de dengo para repousar na nossa cama. Noutros momentos L. parecia que sofria de carência crônica e aí não desgrudava de mim, roçava seu pêlo no meu, me acariciava, banhava-me toda com sua língua, rosnava e dizia que me amava uma, duas, três, quatro... e prometia não mais fugir de casa. Só que bastavam os dias correrem, os amigos aparecerem, as outras gatas... e lá se ia L. novamente para suas aventuras intermináveis...

Eu adotei o meu gato L. numa noite de natal, tava tão bonito, limpinho e abandonado. Tive dó do bichinho e a partir desse dia resolvi que cuidaria dele...

Mas, não consegui cumprir meu intento, numa noite de revolta depois de uma das suas escapadelas pela vizinhança eu não o recebi mais de volta e o larguei de uma vez na rua...

Eu não sei o que fazer com meu gato, quando ele começa a miar desesperado, com sede de leite e fome, não sei bem o que acontece mais meu coração se derrete e lá vou eu novamente dar de comer e beber ao bichano.

Sei que o correto mesmo era que eu não o recebesse mais e o enxotasse de minha porta, mas já saquei que ele de um jeito ou de outro descobriu o meu ponto fraco e sempre consegue tudo o que quer de mim.

Dizem que isso pode ser amor, acho que sim, acho! Meu gato L. não me cobra nada, eu também já não o espero mais e assim seguimos vivendo, sem posse, se amarras, sem gritos e revoltas... Somente gemidos e lambidas de amor.

Ah, meu gato L. Por que as pessoas não nos entendem? Por quê?

Fotografia: A menina e o gato de Manuel de Oliveira. 1941

domingo, 7 de dezembro de 2008

É só uma questão de jeito

Escrevo porque sempre tenho necessidade de ver as coisas de um jeito diferente do que são: as coisas...
Quando era pequena eu tinha muitos amigos que só apareciam para mim. Um deles era um menino lourinho que lembrava muito o Pequeno de Saint-Exupéry. Tinha uma senhora de cabelos brancos, um saci pererê, um príncipe encantado, uma cadela com pelos negros, um papagaio que falava todas as línguas, um pé de vento que sempre rodopiava e me contava estórias das suas andanças, um homem com voz doce que parecia o papai noel...

Certa vez andando pelas matos do interior do meu avó, eu presenciei o casamento mais lindo que alguém podia sonhar: era de uma sabiá e um joão-de-barro. Foi uma beleza de festança, todos as familiares presentes, os amigos, coisa mais linda a cantoria deles... eles dançavam e cantavam tremulando as assas... toda a mata ficou com lágrimas nos olhos de tanta felicidade. Quando fomos visitar a casinha deles era uma belezura só, dava pra perceber que eles ficariam juntos a vida toda e que seriam muito felizes dentro daquela casinha tão repleta de cuidado e amor.

Teve um dia que eu estava muito muxoxa, parecia que a vida não tinha mais sentido para mim, acho que eu tava com doença da alma. Acho! Aí eu sentei numa pedra e fiquei derramando gotas de orvalho dos meus olhos e pensando que seria melhor que eu partisse de uma vez pra outro mundo e abandonasse tudo: o sol, as flores, a florzinha, os amigos... de repente, surgiu uma borboleta amarela grandona, mas muito grandona mesmo. Ela danou-se a conversar comigo e disse que ia me emprestar um par de assas que ela tinha de reserva só para eu conhecer o mundo lá de cima do céu e puder ver como viver era belo. Voamos muito tempo para o alto, acima das nuvens e bem perto das estrelas. Lá de cima eu conheci outras borboletas que também me esperavam no céu, ficamos sem dizer uma palavra durante muito tempo, eu olhava aquele mundo tão grandão lá de cima e pensava: como a gente podia viver num mundo tão imenso sendo tão pequeninho? Eu fiquei mais alegre de estar viva, me achei privilegiada e quis voltar pra terra e continuar minha caminhada por esse planeta de gente miúda. A borboleta, minha amiga, seguiu seu caminho, disse que um dia nos encontraríamos novamente para visitarmos outros lugares ainda mais distantes. Eu espero sempre por ela.

Tem um mês que eu vi cair uma chuva de sorvete, caiu como se fosse chuva, tinha de todas as cores, tudo quanto era sabor... hum, uma delícia!

Quando eu durmo na verdade eu acordo.

Malú, Nina, Sabiá Cardíaca, Rex, Smit, Coelhinho cinza, Peixe amarelo, Anne, Ratinho Encantado... resolveram apenas mudar de mundo e partiram para ficar com os seus. Agora eu não choro mais por eles porque eles me visitam em sonhos e até brincam comigo!

Florzinha beija a minha face todos os dias.

Eu consigo montar aquele quebra-cabeça da moranguinho de 2.000 mil peças num piscar de olhos.

Ontem fui até o interior do meu avó visitar os meus.

Não existem mais crianças maltratadas, e elas não apanham mais, e correm felizes brincando de esconde-esconde, picula, chicotinho queimado, gincana...

O alimento não é mais vendido, a gente vai até o pomar e colhe frutas, legumes... tão gostosos.

Dentro das casas existe muito amor... tudo é sereno e aconchegante.

Tem muita coisa no meu mundo das coisas que é bem diferente do que vemos no dia-a-dia, depois eu conto mais! Agora eu vou ter que dar atenção a um amigo beija-flor que venho fazer-me uma visita e contar as novidades de como anda seu mundo e as coisas de lá...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Para minhas Protetoras



Dia de Santa Bárbara,
Minha mãe nasceu em Santa Bárbara,
Ela me contou que a santa é minha protetora.
Também...
Eu tenho uma santinha que mãe comprou e benzeu em Santa Bárbara,
Mas a cabeça dela quebrou. Falaram-me que tinha de levá-la até uma igreja e abandoná-la em um canto qualquer...
“Ter santa quebrada dentro de casa traz má sorte...”
Já falei que não acredito e que não abandono minha santinha. Os olhos dela lembram os de minha mãe, tão parecidos, tão azuizinhos como o mar.
Pintei minhas unhas de vermelho em homenagem ao dia quatro de dezembro.
Se eu voltasse no tempo teríamos passado o dia de ontem cortando quiabo na casa de Dona Dinalva, todas nós, as crianças e os adultos. Era uma festa! Quer dizer duas, o dia anterior cortando quiabo e o dia de hoje comendo caruru...
Ainda existe o caruru de Dona Dinalva, é de promessa. Enquanto ela estiver viva...
Viva... acho melhor mudar o assunto...
Porque dia de Santa Bárbara também é dia de lembrar muito de minha florzinha,
Hoje acordei com muita saudade, mais que ontem e talvez menos que amanhã...
Antes de concluir este texto quero fazer um pedido a minha Protetora:

... ... ... ... ... ... ... ... obrigada.

Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura, Ficai sempre ao meu lado para que eu possa enfrentar de fronte erguida e rosto sereno todas as tempestades e batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer a vós, minha protetora, e render graça a Deus, criador do céu, da terra e da natureza: este Deus que tem o poder de dominar a furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras.
Santa Bárbara, rogai por nós!

Amém!

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Salva-vidas?

Chego até a popa deste veleiro,
Um vento refrescante atiça os meus pêlos,
Adoro esse vento dos dias chuvosos.
Observando o mundo da popa do veleiro imaginário,
Percebo que a cada instante que segue, me torno mais inteira, e ao mesmo tempo mais contraditória.
Antes, quando ainda tinha meus braços entrelaçados com as necessidades mundanas,
Sofria de coisas, agora imperceptíveis.
Não me cabe mais correr desesperada,
Afogar-me na tentativa de alcançar a terra...
Vou navegando...
Curtindo o tempo das coisas,
Remando conforme a maré.
Às vezes chego a pensar que isso pode ser coisa da velhice,
Mas ainda sou uma pequena.
Eu queria não ter este salva-vidas amarrado em mim,
Eu queria não temer teus braços,
E esperá-lo com os meus abertos.
O que se pode construir dentro de quartos?
O amor pode nascer do cansaço das noites de sexo?
O que realmente possuem os amantes além de desejos, álcool, cigarros...?
Por que só me resta no final das contas o príncipe encantado, o mesmo que me cercava quando era pequena?
Por que não assumir tudo, jogar fora o salva-vidas e encarar você como o rei torto do meu palácio de dúvidas?

Ah, meu bem... perdão por me permitir sobreviver neste labirinto de incertezas,
Por não possuir mais a coragem de outrora,
Por ter me transformado nesta mulher que tem medo de cair
E que sempre se levanta após cada queda...
Eu só queria mesmo era ter a coragem de lhe pedir,
Que numa dessas noites de paixão
Você, anjo torto e insano (e és tão belo assim...)
Com muito cuidado e jeitinho,
Desatasse esse colete que está amarrado em minhas costas,
Depois me abraçasse
Beijasse minha face,
E me colocasse para dormir segurando meus dedos.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Eu e Vincent Van Gogh





- Você sempre quer muito...

Reflito...
Busco palavras para começar este texto e não as encontro. Como é que com tantas palavras eu não encontro nenhuma?

Estranho... estranho. Amo a dubiedade das palavras. Talvez seja isso! Quando somos estranhos na vida de uma pessoa tudo que ela diz, faz, sente deve ser muito... (olha a dubiedade novamente) estranho.

Rememoro...
Sou uma pequena... seis, sete anos de idade. estou encostada na janela da casa de tia Mariá. Sou uma pequena que se sente menor ainda. Durante anos convivi com essa sensação, e busquei artimanhas para não permitir que esse monstro se apoderasse de mim. Sinto-me sozinha, não tenho amigos, não tenho mais minha prima meia irmã... só existem adultos, livros e o tempo como companheiro. Ainda faltam dois meses para as férias acabarem... Se eu ainda tivesse aquela chupeta escondida, se tia Mariá não tivesse jogado as outras fora, se ao menos eu tivesse o colo de minha mãe... Quando eu crescer eu nunca mais vou ficar sem chupeta, vou comprar um pacote bem grande igual aquele que meu pai me deu quando brigou comigo e queria me reconquistar! Quando eu crescer vou ter um monte de amigos, livros, brinquedos novos... vou ter um monte de tudo que quiser ter... quando eu crescer... quando eu crescer vou querer sempre muito!

Eu sei...
Que o muito que hoje eu busco está além das palavras. Que na verdade já foi dito que muito é muito pouco. Que o que ainda tenho muita vontade de fazer é depositar muitos barquinhos de papel naquele rio insano que só existia em dias de chuva na porta da casa de Mãe... parecia sonho, os barquinhos correndo desenfreados, transformando o asfalto em um mar de barcos...
Que quero escrever muitos textos como fazia no passado, ainda que bobos, ainda que tristes, ainda que sofrendo de mal de amor!
Quero ter muito tempo para admirar o pôr-do-sol!
Muitas horas e muita paciência para brincar com meus sobrinhos, especialmente brincar de bombeiro com Guilherme.
Quero muito tempo para amar... fazer amor, e porque não? Beijar muito.
Quero muito não esquecer nunca o cheiro de minha florzinha, os olhos azuis dela, a pele, a luz, o coração! Quero realmente muito isso.
Quero ter bom senso, educação, um jardim com muitos girassóis, gerânios, margaridas, violetas e a sobrevivente sempre muito perto de mim, mudando de casa a cada novo ano, sempre bela ainda que eu esqueça de molhá-la. Mas sempre ali, firme e forte!

Quero muitas coisas sempre, você está certo!
Mas quero mais ainda ter a certeza que não quero abrir mão nunca das, dos muitos, muitas... que acredito ser imprescindível para ser feliz neste mundo de muitas coisas inúteis...

(Telas de Van Gogh: Jardim Florido, La Siesta, Café Nocturno da Praça Lamartine de Arlés,

quarta-feira, 19 de novembro de 2008


Disseram-me que tenho estrelas tatuadas no corpo,
Um passarinho no tornozelo,
Hálito com aroma de pétalas de rosas.
Uma vez também me falaram que meu sexo rosa
Contrastando com meus seios rosa, parece mesmo um mar de rosas...
Também me fizeram crer por um tempo, que sou medusa,
Que meus olhos são como jardins ensolarados, mares cristalinos,
Céu em dia nublado, reflexo de alma juvenil, espelhos de uma alma perdida...
Já fui chamada de sereia, uma das que tentou levar Ulisses para o inferno...
Falaram que sou uma flor(zinha),
Também uma niña,
Mulher,
Já me chamaram de casa,
Mentirosa,
Feminina,
Cínica,
Desgraçada...
De arte do capeta,
De obra de Deus,
Filha de Yemanjá e de Iansã.
Ah, Oxum também.
Já disseram que eu sou boa,
E que sou má.
Que ando nas nuvens e que tenho pés ficados ao chão.
Já disseram isto e aquilo de mim...
Já contaram todas as minhas contas.

E eu só me pergunto no final das contas
Quem conta um conto aumenta um ponto?
Vixe Maria mãe de Deus...
Quem é essa mulher então que para piorar tudo ainda inventou de dar vida a uma centena de outras mulheres?

sexta-feira, 14 de novembro de 2008


Eu não sabia que eu sabia que meu coração é amarelo e não vermelho. Que o tempo pode fechar mesmo estando um dia ensolarado. Que o tempo pode melhorar mesmo estando um dia cinzento. Que meus olhos na verdade são grandes e vivos mas não passam de um mangá. Que minhas pernas mesmo curtas me levam a lugares inimagináveis... que possuo assas enormes em minhas costas pequenas. Que sou uma boneca de pano e que meus cabelos encaracolados são costurados e de nylon.

Eu não sabia que eu sabia que meus amores partem ainda permanecendo por toda a vida junto comigo, alguns. Que minha florzinha se foi, mas ficou grudada em mim com uma cola mais forte que super bonder, muito melhor! Cola invisível das boas, elaborada por um anjo e registrada por Deus. Eu sempre soube que meus irmão são maravilhosos ainda que possuam defeitos. Meus sobrinhos são meus filhos também. E que vou sentir todos os dias saudades de minha florzinha, ainda que tenha ela colada em mim...

Eu não sabia que eu sabia que nasci para correr o mundo. Interpretar todos os personagens. Escrever milhões de estórias e textos bobos. Morrer de amor todos os dias e renascer todos os dias por causa do amor... Eu sempre soube que sou filha de uma borboleta e que quero voar por toda Ipanema num entardecer bonito.

Eu sempre soube que eu sabia que o rio que lava minha face é o mesmo rio de uma tarde de janeiro. Eu sei que o Cristo que lá está de braços abertos me acompanha com seu olhar protetor, que a lagoa me enfeitiça e que se não ficar esperta terei meu coraçãozinho de borboleta adocicado por um par de olhos azuis com perfume de bossa nova.

Eu não sabia que sempre soube que sabia...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

C + C


Para lembrarmos sempre do nosso primeiro beijo roubado...

Escorrem lágrimas dos meus olhos...
Por mais que tente contê-las essas teimam em escorrer e lavar minha alma...
Queria que estivesse aqui me acolhendo com suas mãos, com seus olhos serenos, e seu jeito meigo...
Quantas saudades eu sinto...
Quantas saudades, Mãe...
No fundo eu sei que olhas por mim... que todos os dias e noites vem me visitar e coloca suas mãos sobre minha cabeça, me abraça, beija minha face e vai embora ficar com os seus amigos do céu...
E eu choro...
Depois que você se foi eu descobri vários tipos de choro:
Choro desesperado,
Choro suave,
Choro repentino,
Choro de uma lágrima,
Choro contido,
Choro rebelde,
Choro revolta,
Choro bandido,
Choro de saudades...
Tipos infinitos... infinito como o céu dos seus olhos...
Mãe, não tenho muita coisa para dizer agora.
Por isso mesmo choro e sei que você me compreende...
Saudade é foda!
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...
Cuida de mim...
Beija minha face,
Abraça-me...
E contém essas lágrimas que não se sustentam mais dentro do meu peito.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Cegueira


Eu não quero mais ver...
“Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus...”
Quem tem desejo de enxergar mais algo nessa terra de cegos?
Onde pessoas matam por dinheiro...
Digladiam-se como leões...
Fingem, mentem, praguejam, maltratam, batem...
Atiram pedras por ciúmes...
E continuam cada vez mais fingindo ser o que não são!
A humanidade perdeu a humanidade,
Cada vez mais quero juntar-me aos necessitados,
Aos bichos,
As plantas...
O Pequeno Príncipe estava certo! Em dias de muita tristeza o melhor é admirar o pôr-do-sol...
E derramar algumas lágrimas também.
De minha janela eu não consigo enxergar o pôr-do-sol...
Mas o amarelo que entra pela janela me traz a paz necessária para ser feliz com muito pouco,
Às vezes alguns passarinhos posam em minha janela...
As borboletas são minhas amigas de todas as horas...
E as crianças da creche que fica em frente a minha janela mandam beijos para o lado de cá e sorriem e choram e brincam...
Por fim faço minhas as palavras escritas por Florbela Espanca:

“Eu não sou boa nem quero sê-lo, contento-me em desprezar quase todos, odiar alguns, estimar raros e amar um.”

sábado, 18 de outubro de 2008

Enquanto seu lobo não vem...


Hoje pensei muitas coisas... relembrei outras e decididamente procurei em vão encontrar-me comigo mesma! Senti uma vontade imensa de retornar ao passado, criança, adolescente, quase mulher... mas aos poucos fui perdendo a coragem, tive uma infância um tanto quanto depressiva, para não enlouquecer assim que aprendi a ler afoguei-me nos livros e através de Vinícius, Florbela, Drummond, Cecília... fui salva daquela assustadora melancolia que acompanha a vida das crianças...

Como adolescente, nem pensar!!! Achava a adolescência um saco... os papos dos colegas, a descoberta do corpo (que talvez em mim tenha sido precoce). As espinhas (dos outros, em mim elas não deram o ar da graça). A morte sempre rondando os amigos, meus animais, familiares e vizinhos... mas aí o teatro se fez meu amante, seduziu-me, enfeitiçou-me, possui-me totalmente. Eu respirava teatro, bebia teatro, comia, fazia sexo, gozava, gozava muito teatro... só que ainda era verde e seria necessário que o tempo passasse para que eu descobrisse os métodos, as artimanhas, a farsa, o sorriso e a tristeza... era preciso que eu me tornasse mulher para que em mim existisse os sentimentos necessários que uma atriz deve conter em seu peito para interpretar com honestidade...

“Quase mulher”: casada... atriz... separada.... reaprendendo a ser só... a só ser... apaixonada de novo... saudade... separação... transtornada... cantora... de novo apaixonada!

Recordo-me que um dia escutei de um rapaz que eu não poderia verdadeiramente nunca ser feliz no amor... Também me perguntei se aquilo era verdade. Para ele eu tinha uma espécie de liberdade e tristeza congênita que atinge a determinado tipo de mulheres... disse que sofria também em me dizer aquilo mas que eu inconscientemente vivia numa redoma de vidro frágil como um cristal que não podia ser quebrado pois era herança dos meus antepassados... herdara de minha mãe, que herdara de minha avó a tal melancolia familiar! E que toda vez que um homem tentava quebrar a redoma eu me transformava em erva daninha...

Eu acreditei por um tempo nessa estória, mas confesso que hoje quando vago na noite, tomando cerveja e algumas vezes até dando uns traguinhos de cigarro, percebo que minha redoma não é de maldade e sim de defesa... eu não sou e nunca fui tão mal quanto tentam me fazer acreditar... não tenho culpa se as vezes dou mais e recebo menos e quando recebo menos me anulo... não tenho culpa se por vezes machuco por falar a verdade e acredito que talvez quem sabe um dia um príncipe consiga retirar a retoma fina de vidro...

Não tenho tanta culpa de coisa alguma, na verdade não quero voltar a lugar algum... apenas viver com ou sem redoma de vidro enquanto não recebo o beijo do meu pequeno principe.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O Céu dos seus olhos...


Estou repleta de silêncio... consumida de um vazio de palavras, esquecida dos verbos e já me esqueci como é mesmo que funciona o mecanismo dos diálogos... eu queria poder ir a marte, não! marte esta cult demais nesse momento, acho que a única salvação seria o B612...

No B612 existe uma flor... talvez ela me consolasse porque o seu Pequeno também partiu sem dizer-lhe se voltava ou não, não sou tão boa companhia como já fui outrora, mas sei que me entenderia com a rosa...

Há momentos em que estou tão vazia que me desespero... como posso estar tão oca? Eu queria ter um relógio que girasse ao contrário e ao invés de o tempo ir para frente ele iria voltando, segundo por segundo para trás... eu daria tudo o que possuo por esse relógio... embora não possua muitas coisas, mas daria meu velho teclado, minhas borboletas secas (eu não as mato, apenas as recolho depois que elas morrem), daria meus livros e meus cds e qualquer coisa mais que o dono do tal relógio se desse por satisfeito... se o tempo voltasse atrás eu acho que seria lindo, dia chuvoso, eu colocando barquinhos de papel nas poças... e minha mãezinha cozinhando, ou passando roupa... vez em quando eu iria até ela e me encostaria em suas pernas, seguraria a barra do seu vestido, daria um abraço e voltaria pros barquinhos repleta do cheiro bom dela...

Não existe relógio que faça tempo voltar... tenho rebubinado a fita da minha vida através do cérebro mesmo. Eu era muito pequena quando senti pela primeira vez o medo de perdê-la... tinha acontecido um acidente na rua onde morávamos e entrei em desespero pensando que o ônibus que bateu tinha lhe atingido:
- Calma minha filha, sua mãe está aqui... calma meu bem... não chore... não chore...
Eu não consigo parar de chorar... toda vez que olho para o céu lembro dos seus olhos azuis... é muito sofrido porque o céu é o espelho dos teus olhos e eu gosto do céu...

Esta noite sonhei que estava na nossa casa e que você passava indiferente a mim... meus sonhos tem sido sempre com você indiferente, mas a indiferença não é proposital é porque no sonho tudo está normal e ainda não sabemos o que aconteceu... nem você nem eu... mas quando acordo eu choro porque volto à realidade e lembro o que aconteceu....

Rezei a Santa Bárbara, pedi a ela para nos proteger sempre, pequei a santa que me destes e olhando para ela reparei mais uma vez que os olhos dela são triste de doer... resolvi outra coisa: lembra que o pescoço dela está quebrado e que me dissestes para coloca-la numa igreja? Pois bem não a levarei a igreja alguma e guardarei-a sempre comigo, onde quer que eu vá... esse lance de trazer azar é mito... a santa quebrou, sim! mais um motivo para ela ficar feliz... mesmo quebrada queremos ela por perto... não quero trocá-la por uma nova... o valor da antiga está justamente no fato de você ter me dado, suas mãos a tocaram, escolheram ela... chorei sobre ela, banhei-lhe com minhas lágrimas e depois abraçada dormi.

Quero que fique bem onde quer que esteja... eu acho que vou ficar bem também, Larissa agora tem um cachorro, engraçado, né? Logo depois se sua partida seu desejo foi concretizado... meu desejo lembra? Era comprar o fusquinha para todos os dias ir visitá-la... passo o fusquinha... passo!

Por que tão cedo? Por que sou chorona agora? Por que estou obinubilada? Por que meus sonhos são estranhos? Por que seu cheiro era tão bom? Por que fico lembrando de você naquela caixa? Por que?... Por que?... Por que voltei a fase dos porquês?

Uma borboleta cinza apareceu morta no chão da sala... chorei!
Sinto a morte muito próxima agora...
E o silencio das coisas também!
Tenho vontade de gritar bem alto...
- Mãe estou com medo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!