sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Eu e Vincent Van Gogh





- Você sempre quer muito...

Reflito...
Busco palavras para começar este texto e não as encontro. Como é que com tantas palavras eu não encontro nenhuma?

Estranho... estranho. Amo a dubiedade das palavras. Talvez seja isso! Quando somos estranhos na vida de uma pessoa tudo que ela diz, faz, sente deve ser muito... (olha a dubiedade novamente) estranho.

Rememoro...
Sou uma pequena... seis, sete anos de idade. estou encostada na janela da casa de tia Mariá. Sou uma pequena que se sente menor ainda. Durante anos convivi com essa sensação, e busquei artimanhas para não permitir que esse monstro se apoderasse de mim. Sinto-me sozinha, não tenho amigos, não tenho mais minha prima meia irmã... só existem adultos, livros e o tempo como companheiro. Ainda faltam dois meses para as férias acabarem... Se eu ainda tivesse aquela chupeta escondida, se tia Mariá não tivesse jogado as outras fora, se ao menos eu tivesse o colo de minha mãe... Quando eu crescer eu nunca mais vou ficar sem chupeta, vou comprar um pacote bem grande igual aquele que meu pai me deu quando brigou comigo e queria me reconquistar! Quando eu crescer vou ter um monte de amigos, livros, brinquedos novos... vou ter um monte de tudo que quiser ter... quando eu crescer... quando eu crescer vou querer sempre muito!

Eu sei...
Que o muito que hoje eu busco está além das palavras. Que na verdade já foi dito que muito é muito pouco. Que o que ainda tenho muita vontade de fazer é depositar muitos barquinhos de papel naquele rio insano que só existia em dias de chuva na porta da casa de Mãe... parecia sonho, os barquinhos correndo desenfreados, transformando o asfalto em um mar de barcos...
Que quero escrever muitos textos como fazia no passado, ainda que bobos, ainda que tristes, ainda que sofrendo de mal de amor!
Quero ter muito tempo para admirar o pôr-do-sol!
Muitas horas e muita paciência para brincar com meus sobrinhos, especialmente brincar de bombeiro com Guilherme.
Quero muito tempo para amar... fazer amor, e porque não? Beijar muito.
Quero muito não esquecer nunca o cheiro de minha florzinha, os olhos azuis dela, a pele, a luz, o coração! Quero realmente muito isso.
Quero ter bom senso, educação, um jardim com muitos girassóis, gerânios, margaridas, violetas e a sobrevivente sempre muito perto de mim, mudando de casa a cada novo ano, sempre bela ainda que eu esqueça de molhá-la. Mas sempre ali, firme e forte!

Quero muitas coisas sempre, você está certo!
Mas quero mais ainda ter a certeza que não quero abrir mão nunca das, dos muitos, muitas... que acredito ser imprescindível para ser feliz neste mundo de muitas coisas inúteis...

(Telas de Van Gogh: Jardim Florido, La Siesta, Café Nocturno da Praça Lamartine de Arlés,

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