quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Enfim, sós!

Quero dançar comigo mesma,
Quero me abraçar tanto até me sufocar de paixão,
Vou encher-me de beijos molhados, dos pés até a cabeça.
Já não preciso de tempo para me conhecer, percebi que quero a mim mesma com um amor tão imenso que seria capaz de embebedar toda a humanidade.

Há tempos que me buscava,
Havia percorrido tantas estradas,
Vagado perdida por tantos corpos estranhos...
E hoje percebo com uma clarividência absurda como estes corpos que tanto me fizeram perder o controle são diferentes de mim. Estranhos a mim...

Eu estava obnubilada,
A verdade é que sempre estive tão perto,
Do lado, ali! Sempre me observando, esperando um aceno que fosse,
E eu cega!
A cegueira não está nos olhos e sim na alma...

Mas agora que me encontrei...
Vou me amar muito,
Passear nas tardes amarelas,
Colher conchinhas no mar,
Fazer amor debaixo dágua,
E engravidar-me de mim mesma...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A menina e o gato


Eu tenho um gato, o nome dele eu não quero revelar, começa com a letra L, tem quatro letras, e é o nome de um outro bicho.
Eu tinha abandonado o meu gato na rua, não costumo fazer isso, mas L. era muito fujão. Só parava em casa quando tinha vontade. Ás vezes porque estava cansado e aí vinha todo cheio de dengo para repousar na nossa cama. Noutros momentos L. parecia que sofria de carência crônica e aí não desgrudava de mim, roçava seu pêlo no meu, me acariciava, banhava-me toda com sua língua, rosnava e dizia que me amava uma, duas, três, quatro... e prometia não mais fugir de casa. Só que bastavam os dias correrem, os amigos aparecerem, as outras gatas... e lá se ia L. novamente para suas aventuras intermináveis...

Eu adotei o meu gato L. numa noite de natal, tava tão bonito, limpinho e abandonado. Tive dó do bichinho e a partir desse dia resolvi que cuidaria dele...

Mas, não consegui cumprir meu intento, numa noite de revolta depois de uma das suas escapadelas pela vizinhança eu não o recebi mais de volta e o larguei de uma vez na rua...

Eu não sei o que fazer com meu gato, quando ele começa a miar desesperado, com sede de leite e fome, não sei bem o que acontece mais meu coração se derrete e lá vou eu novamente dar de comer e beber ao bichano.

Sei que o correto mesmo era que eu não o recebesse mais e o enxotasse de minha porta, mas já saquei que ele de um jeito ou de outro descobriu o meu ponto fraco e sempre consegue tudo o que quer de mim.

Dizem que isso pode ser amor, acho que sim, acho! Meu gato L. não me cobra nada, eu também já não o espero mais e assim seguimos vivendo, sem posse, se amarras, sem gritos e revoltas... Somente gemidos e lambidas de amor.

Ah, meu gato L. Por que as pessoas não nos entendem? Por quê?

Fotografia: A menina e o gato de Manuel de Oliveira. 1941

domingo, 7 de dezembro de 2008

É só uma questão de jeito

Escrevo porque sempre tenho necessidade de ver as coisas de um jeito diferente do que são: as coisas...
Quando era pequena eu tinha muitos amigos que só apareciam para mim. Um deles era um menino lourinho que lembrava muito o Pequeno de Saint-Exupéry. Tinha uma senhora de cabelos brancos, um saci pererê, um príncipe encantado, uma cadela com pelos negros, um papagaio que falava todas as línguas, um pé de vento que sempre rodopiava e me contava estórias das suas andanças, um homem com voz doce que parecia o papai noel...

Certa vez andando pelas matos do interior do meu avó, eu presenciei o casamento mais lindo que alguém podia sonhar: era de uma sabiá e um joão-de-barro. Foi uma beleza de festança, todos as familiares presentes, os amigos, coisa mais linda a cantoria deles... eles dançavam e cantavam tremulando as assas... toda a mata ficou com lágrimas nos olhos de tanta felicidade. Quando fomos visitar a casinha deles era uma belezura só, dava pra perceber que eles ficariam juntos a vida toda e que seriam muito felizes dentro daquela casinha tão repleta de cuidado e amor.

Teve um dia que eu estava muito muxoxa, parecia que a vida não tinha mais sentido para mim, acho que eu tava com doença da alma. Acho! Aí eu sentei numa pedra e fiquei derramando gotas de orvalho dos meus olhos e pensando que seria melhor que eu partisse de uma vez pra outro mundo e abandonasse tudo: o sol, as flores, a florzinha, os amigos... de repente, surgiu uma borboleta amarela grandona, mas muito grandona mesmo. Ela danou-se a conversar comigo e disse que ia me emprestar um par de assas que ela tinha de reserva só para eu conhecer o mundo lá de cima do céu e puder ver como viver era belo. Voamos muito tempo para o alto, acima das nuvens e bem perto das estrelas. Lá de cima eu conheci outras borboletas que também me esperavam no céu, ficamos sem dizer uma palavra durante muito tempo, eu olhava aquele mundo tão grandão lá de cima e pensava: como a gente podia viver num mundo tão imenso sendo tão pequeninho? Eu fiquei mais alegre de estar viva, me achei privilegiada e quis voltar pra terra e continuar minha caminhada por esse planeta de gente miúda. A borboleta, minha amiga, seguiu seu caminho, disse que um dia nos encontraríamos novamente para visitarmos outros lugares ainda mais distantes. Eu espero sempre por ela.

Tem um mês que eu vi cair uma chuva de sorvete, caiu como se fosse chuva, tinha de todas as cores, tudo quanto era sabor... hum, uma delícia!

Quando eu durmo na verdade eu acordo.

Malú, Nina, Sabiá Cardíaca, Rex, Smit, Coelhinho cinza, Peixe amarelo, Anne, Ratinho Encantado... resolveram apenas mudar de mundo e partiram para ficar com os seus. Agora eu não choro mais por eles porque eles me visitam em sonhos e até brincam comigo!

Florzinha beija a minha face todos os dias.

Eu consigo montar aquele quebra-cabeça da moranguinho de 2.000 mil peças num piscar de olhos.

Ontem fui até o interior do meu avó visitar os meus.

Não existem mais crianças maltratadas, e elas não apanham mais, e correm felizes brincando de esconde-esconde, picula, chicotinho queimado, gincana...

O alimento não é mais vendido, a gente vai até o pomar e colhe frutas, legumes... tão gostosos.

Dentro das casas existe muito amor... tudo é sereno e aconchegante.

Tem muita coisa no meu mundo das coisas que é bem diferente do que vemos no dia-a-dia, depois eu conto mais! Agora eu vou ter que dar atenção a um amigo beija-flor que venho fazer-me uma visita e contar as novidades de como anda seu mundo e as coisas de lá...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Para minhas Protetoras



Dia de Santa Bárbara,
Minha mãe nasceu em Santa Bárbara,
Ela me contou que a santa é minha protetora.
Também...
Eu tenho uma santinha que mãe comprou e benzeu em Santa Bárbara,
Mas a cabeça dela quebrou. Falaram-me que tinha de levá-la até uma igreja e abandoná-la em um canto qualquer...
“Ter santa quebrada dentro de casa traz má sorte...”
Já falei que não acredito e que não abandono minha santinha. Os olhos dela lembram os de minha mãe, tão parecidos, tão azuizinhos como o mar.
Pintei minhas unhas de vermelho em homenagem ao dia quatro de dezembro.
Se eu voltasse no tempo teríamos passado o dia de ontem cortando quiabo na casa de Dona Dinalva, todas nós, as crianças e os adultos. Era uma festa! Quer dizer duas, o dia anterior cortando quiabo e o dia de hoje comendo caruru...
Ainda existe o caruru de Dona Dinalva, é de promessa. Enquanto ela estiver viva...
Viva... acho melhor mudar o assunto...
Porque dia de Santa Bárbara também é dia de lembrar muito de minha florzinha,
Hoje acordei com muita saudade, mais que ontem e talvez menos que amanhã...
Antes de concluir este texto quero fazer um pedido a minha Protetora:

... ... ... ... ... ... ... ... obrigada.

Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura, Ficai sempre ao meu lado para que eu possa enfrentar de fronte erguida e rosto sereno todas as tempestades e batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer a vós, minha protetora, e render graça a Deus, criador do céu, da terra e da natureza: este Deus que tem o poder de dominar a furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras.
Santa Bárbara, rogai por nós!

Amém!