segunda-feira, 27 de outubro de 2008

C + C


Para lembrarmos sempre do nosso primeiro beijo roubado...

Escorrem lágrimas dos meus olhos...
Por mais que tente contê-las essas teimam em escorrer e lavar minha alma...
Queria que estivesse aqui me acolhendo com suas mãos, com seus olhos serenos, e seu jeito meigo...
Quantas saudades eu sinto...
Quantas saudades, Mãe...
No fundo eu sei que olhas por mim... que todos os dias e noites vem me visitar e coloca suas mãos sobre minha cabeça, me abraça, beija minha face e vai embora ficar com os seus amigos do céu...
E eu choro...
Depois que você se foi eu descobri vários tipos de choro:
Choro desesperado,
Choro suave,
Choro repentino,
Choro de uma lágrima,
Choro contido,
Choro rebelde,
Choro revolta,
Choro bandido,
Choro de saudades...
Tipos infinitos... infinito como o céu dos seus olhos...
Mãe, não tenho muita coisa para dizer agora.
Por isso mesmo choro e sei que você me compreende...
Saudade é foda!
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...
Cuida de mim...
Beija minha face,
Abraça-me...
E contém essas lágrimas que não se sustentam mais dentro do meu peito.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Cegueira


Eu não quero mais ver...
“Bem aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus...”
Quem tem desejo de enxergar mais algo nessa terra de cegos?
Onde pessoas matam por dinheiro...
Digladiam-se como leões...
Fingem, mentem, praguejam, maltratam, batem...
Atiram pedras por ciúmes...
E continuam cada vez mais fingindo ser o que não são!
A humanidade perdeu a humanidade,
Cada vez mais quero juntar-me aos necessitados,
Aos bichos,
As plantas...
O Pequeno Príncipe estava certo! Em dias de muita tristeza o melhor é admirar o pôr-do-sol...
E derramar algumas lágrimas também.
De minha janela eu não consigo enxergar o pôr-do-sol...
Mas o amarelo que entra pela janela me traz a paz necessária para ser feliz com muito pouco,
Às vezes alguns passarinhos posam em minha janela...
As borboletas são minhas amigas de todas as horas...
E as crianças da creche que fica em frente a minha janela mandam beijos para o lado de cá e sorriem e choram e brincam...
Por fim faço minhas as palavras escritas por Florbela Espanca:

“Eu não sou boa nem quero sê-lo, contento-me em desprezar quase todos, odiar alguns, estimar raros e amar um.”

sábado, 18 de outubro de 2008

Enquanto seu lobo não vem...


Hoje pensei muitas coisas... relembrei outras e decididamente procurei em vão encontrar-me comigo mesma! Senti uma vontade imensa de retornar ao passado, criança, adolescente, quase mulher... mas aos poucos fui perdendo a coragem, tive uma infância um tanto quanto depressiva, para não enlouquecer assim que aprendi a ler afoguei-me nos livros e através de Vinícius, Florbela, Drummond, Cecília... fui salva daquela assustadora melancolia que acompanha a vida das crianças...

Como adolescente, nem pensar!!! Achava a adolescência um saco... os papos dos colegas, a descoberta do corpo (que talvez em mim tenha sido precoce). As espinhas (dos outros, em mim elas não deram o ar da graça). A morte sempre rondando os amigos, meus animais, familiares e vizinhos... mas aí o teatro se fez meu amante, seduziu-me, enfeitiçou-me, possui-me totalmente. Eu respirava teatro, bebia teatro, comia, fazia sexo, gozava, gozava muito teatro... só que ainda era verde e seria necessário que o tempo passasse para que eu descobrisse os métodos, as artimanhas, a farsa, o sorriso e a tristeza... era preciso que eu me tornasse mulher para que em mim existisse os sentimentos necessários que uma atriz deve conter em seu peito para interpretar com honestidade...

“Quase mulher”: casada... atriz... separada.... reaprendendo a ser só... a só ser... apaixonada de novo... saudade... separação... transtornada... cantora... de novo apaixonada!

Recordo-me que um dia escutei de um rapaz que eu não poderia verdadeiramente nunca ser feliz no amor... Também me perguntei se aquilo era verdade. Para ele eu tinha uma espécie de liberdade e tristeza congênita que atinge a determinado tipo de mulheres... disse que sofria também em me dizer aquilo mas que eu inconscientemente vivia numa redoma de vidro frágil como um cristal que não podia ser quebrado pois era herança dos meus antepassados... herdara de minha mãe, que herdara de minha avó a tal melancolia familiar! E que toda vez que um homem tentava quebrar a redoma eu me transformava em erva daninha...

Eu acreditei por um tempo nessa estória, mas confesso que hoje quando vago na noite, tomando cerveja e algumas vezes até dando uns traguinhos de cigarro, percebo que minha redoma não é de maldade e sim de defesa... eu não sou e nunca fui tão mal quanto tentam me fazer acreditar... não tenho culpa se as vezes dou mais e recebo menos e quando recebo menos me anulo... não tenho culpa se por vezes machuco por falar a verdade e acredito que talvez quem sabe um dia um príncipe consiga retirar a retoma fina de vidro...

Não tenho tanta culpa de coisa alguma, na verdade não quero voltar a lugar algum... apenas viver com ou sem redoma de vidro enquanto não recebo o beijo do meu pequeno principe.